sábado, 30 de dezembro de 2017

Os PIORES filmes de 2017


Todo o ano é sempre a mesma coisa. Por meses ficamos à espera dos grandes lançamentos que vão tomar o circuito comercial e ainda disputar quem vai se dar melhor na bilheteria do final de semana, mas, como todo bom cinéfilo e crítico, existe o desafio anual de descobrir os grandes achados da temporada ou condenar as mais incômodas das obras ao esquecimento sem poupar caracteres para apontar seus deméritos.

Assim, como de praxe por aí em todo o final de ano, listo aqui uma seleção daqueles que, como o título diz claramente, considero os piores longas do ano por motivos estéticos e/ou técnicos, muito embora não faltaram títulos que, apesar de uma proposta boa, não obtiveram nada mais do que resultados fracos em tela.


10) Boneco de Neve



The Snowman é, sem dúvidas, o filme que derrocou a todos os fãs de thrillers policiais inteligentes, tão ávidos por crimes e suas resoluções que precisam explodir a cabeça tamanha sagacidade do detetive. Reunindo um elenco ilustre (com nomes comumente competentes) e o peso de uma produção assinada por ninguém menos que Martin Scorsese, o longa do sisudo Tomas Alfredson a todo o instante parece desacreditado no seu conteúdo, inspirado no livro homônimo de Jo Nesbø, com uma destoante trilha de Marco Beltrami. Michael Fassbender e elenco bem que tentam segurar as pontas nas locações norueguesas (e fazendo do inglês a primeira língua oficial do país), mas Alfredson estava com a cabeça bem longe, almejando ser um Bergman com suas referências psicanalíticas…

[…] Porque, enquanto Oslo vive em uma superfície de baixa criminalidade e um empresário se engaja na campanha para levar os Jogos de Inverno para a cidade, tentando abafar os feminicídios e o tráfico sexual, figuras variadas da sociedade gritam sufocadas em silêncio que, pouco a pouco, desmascaram a patriarcal rotina de aparências e demonstram o maior acerto da decupagem de Alfredson. Morando ou trabalhando em imóveis com janelas (sem cortinas) até mesmo entre os cômodos, o diretor filma as interações dessas pessoas recuando a câmera no melhor estilo voyeur intensificando o mistério e a paranoia tão difusos na neve, mas é com os breves retratos do detetizador afetado, do pai estéril que não quer que a enteada tenha um celular, das mulheres casadas insatisfeitas, do ex-empresário que se vê a par de seus antigos funcionários, dos ex-namorados que sentem recaídas e de um ensaio íntimo feito em um apartamento paralelo ao de Hole, Alfredson aponta para o degelo do sistema heteronormativo nórdico que, pelo visto, só pode conter tais mudanças de perfis senão por métodos ilegais – mas qual é a necessidade de apenas, majoritariamente, enxergar a culpa na mulher?

9) Colossal



A ideia era pra lá de divertida, ainda mais com um trailer vendendo bem essa louca mistura que envolve uma Anne Hathaway bebum e monstros orientais típicos dos velhos filmes B de ficção científica. Porém, o filme do histriônico Nacho Vigalondo surge com um dos piores roteiros da safra a ponto de fazer Esquadrão Suicida um exemplo de criatividade e de riqueza narrativa tamanha repetição de incidentes e, o que é pior, uma falha tentativa de estimular o empoderamento feminino quando passa toda a sua projeção apontando para o caráter nada exemplar da personagem de Hathaway.

Vigalondo até que tenta e orça subtramas que especulam a decadência americana, a julgar pelo caráter de acumulador de Oscar, pelas desculpas esfarrapadas de Garth (Tim Blake Nelson) para consumir droga no banheiro e pelo machismo executivo refletido em Tim, mas tudo é tratado com pouco caso e, mesmo quando o grande porquê da história demonstra um vislumbre de inventividade e culmina num até que satisfatório desfecho, a ressaca é torpe e previsível demais.

8) Bright



Por falar em Esquadrão SuicidaDavid Ayer está de volta com mais uma produção divergente e também um dos projetos originais de fantasia mais audaciosos da Netflix, ainda mais após o bom Okja e a euforia ao redor do lançamento de Stranger Things 2. Em suma, o que se vê é tudo (e olhe lá…) menos fantasia do jeito que a gente adora passar horas assistindo.

Convicto de que domina a temática, tal como os pontos altos de sua filmografia (seja como roteirista ou diretor) o precedem, Ayer apresenta aqui mais uma fita policial que se orgulha de sua marra de periferia e de seus longos papos-testosterona que podem ser divertidos para um espectador pouco familiarizado com suas obras, mas, no fundo, apenas comprometem o passo da narrativa e a experiência do público que valoriza a ação acima de uma redundante – e aborrecível – verborragia. Em outras palavras, Bright é como se Dia de Treinamento se passasse em Warcraft, porém se atendo apenas a um genérico e análogo discurso sobre preconceito racial.


7) Transformers: O Último Cavaleiro



Michael Bay falou que seria um filme diferente, justamente pelo fato de a Paramount ter montado uma sala de roteiristas para projetar o futuro da franquia começada em 2007, mas o resultado foi tão tedioso e barulhento quanto as sequências de 2009, 2011 e 2014. Para alguém, como eu, cético com a série, porém empolgado com a ideia de Autobots medievais, foi uma decepção tremenda, tal como apontei na crítica na ocasião.

Comumente colorido e pipocando efeitos e barulhos ensurdecedores quase que a todo frame rodado, é decepcionante atestar que este novo Transformers em nada aprendeu com os erros de seus três longas antecessores e, novamente, culmina em uma narrativa arrastada e excessiva que pouco procura desenvolver o conteúdo de suas cenas, relegadas a uma mise-en-scène terminantemente disléxica que sequer aproveita seus novos personagens em questão, vide a garota Izabella e seu companheiro robô Sqweeks cujo arco se projeta com pouca importância perto do que se esperava. Em um claro simulacro ao sucesso de Rey e BB-8 em Star Wars: O Despertar da ForçaBay e a turma de roteiristas parecem acreditar que a inserção de tais tipos é chamativa o suficiente para prover diversidade à obra e também o diálogo com o público jovem; coisa que foi eficiente só no primeiro longa, quando a mão de Steven Spielberg na produção ainda era pesada e prezava pelo entretenimento agradável.


Não obstante, até o humor marrento de gosto duvidoso que ficou marcado na série tenta dar às caras aqui, mas Michael Bay, com suas exclusivas câmeras IMAX 3D (que carecem de profundidade), acredita que storytelling se resume a filmar em todos os ângulos e lugares mais bonitos possíveis para compensar a falta de uma narrativa íntegra. Considerando a gravidade imposta em seu roteiro, no mínimo, era esperado que o diretor apresentasse um filme onde seu público teme e se comove com os personagens que acompanha há uma década, coisa que raramente acontece.


6) Tudo e Todas as Coisas




Que os teen movies serão sempre atrativos, isso ninguém há de discordar, ainda mais quando o escritor John Green fez com que A Culpa É das Estrelas impulsionasse o gênero tanto no cinema quanto nas prateleiras das livrarias e, ainda que se impere uma patologia espetaculosa nessas obras, há quem se identifique nos personagens que buscam o amor acima das dificuldades. No caso de Tudo e Todas as Coisas, que trouxe dois jovens atores em relativa ascensão, 

[…] a direção de Stella Meghie resulta em um filme deveras claudicante. Ainda que a casa hermeticamente fechada pareça coisa de ficção científica e que os grafismos em tela proporcionem um quê de inédito ao fazer um diagrama animado sobre a doença ou para expor as conversas nos celulares, falta ao filme e aos atores (todos, sem exceção) maior coesão em sua dinâmica comprometida com uma edição irregular, por vezes surgindo com ações vagas e diálogos tão ruins que seria melhor até se o filme fosse inteiramente narrado, tal como começou. A decupagem das cenas também não ajuda muito, inserindo um suspense previsível que só movimenta a dupla principal buscando efetivar sua história de amor com situações gradativamente absurdas, como se fosse perfeitamente natural adquirir um cartão de crédito na Internet e sair comprando viagens luxuosas por aí.


5) Paixão Obsessiva



Detentor do roteiro mais brega, novelesco e machista (se duvidar) de 2017, Paixão Obsessiva é, lamentavelmente, mais uma prova do quão errônea anda a coordenação da Warner Bros. Pictures para suas produções de baixa temporada (vide o Tudo e Todas As Coisas) ou ainda o agravante caso de Liga da Justiça e sua falha ganância de arrecadar mais dólares. Dirigido e roteirizado por mulheres (logo quando o ano foi excelente para realizadoras e atrizes cada vez mais protagonistas de seus filmes), Unforgettable poderia ser uma obra subversiva provando o quanto as mulheres podem ser independentes do homem e, nessa briga que Rosario Dawson e Katherine Heigl se meteram, o sentimento de vergonha alheia só tende a crescer.

Tendo como aliado o suspense, a produção teria tudo para proporcionar incidentes dignos ou inéditos além das mesmas ameaças com objetos pontiagudos ou provocações dissimuladas, mas o que se vê aqui é uma série de reiterações próximas do vexame.

[…] Sucede-se, então, uma série de incidentes dos mais previsíveis possíveis – e isso inclui uma compra de vestido igual, sumiços de objetos e até queda de escada – que se tornam mais e mais entediantes e, nisso, a roteirista decide apimentar a metade do filme com ousadas cenas de sexo (aproveitando a moda Cinquenta Tons De Cinza) cujo resultado é pouco sensual e passível de risos tamanha apelação desenfreada.

Pior que torço muito pro filme virar um cult daqui a algumas décadas… 

Leia a crítica completa de Paixão Obsessiva

4) Death Note



Realmente, Hollywood ainda não engrenou com suas adaptações de animes. Coro reclamando de whitewashing pra lá (como se os personagens originais seguissem à risca os costumes japoneses), público pedindo uma boa história pra cá, não foi desta vez que a americanização de Death Note deu certo, o que faz com que a Netflix esteja mais próxima de ter um catálogo de filmes originais majoritariamente ruins. Do vergonhoso desaproveitamento de Willem Dafoe como o shinigami Ryuk e a predominante apelação para um drama romântico, é difícil encontrar alguém que engoliu esse filme sem se dar conta que o material original traz questões importantes e atemporais.

O problema mesmo é que, tirando uma ou outra pouca coisa que se distingue de seus originais, este Death Note como se apresenta agora é tão mal dirigido, mal roteirizado e mal atuado que faz de Valerian parecer uma obra-prima inesquecível considerando os mesmos quesitos.

Dirigido por Adam Wingard, cujo currículo demonstra experiência no terror, a decupagem e a condução do elenco se provam completamente desfavoráveis à narrativa, a começar por Nat Wolff que, afora seu olhar taciturno, surta com gritos afetados ou violentos diferentes do perfil do personagem outrora recatado e observativo. Vital nos episódios seriados, a dinâmica entre Light e Ryuk pouco é impressa em tela e são raros os planos onde o rosto do shinigami ou ambos aparecem juntos, sem contar a voz tão ideal de Dafoe se resumir a diálogos sem grande importância – pouco orçamento não era, a julgar pela espalhafatosa cena na roda-gigante.

Leia a crítica completa de Death Note

3) Elon Não Acredita na Morte



2017 foi, definitivamente, um dos melhores anos para o cinema brasileiro. Nunca se viu tantos filmes em produção assim como entrando em cartaz, inclusive no tão cobiçado mainstream, enquanto festivais se afloram pelos cantos do país e projetam obras de realizadores estreantes ou com um mínimo de uma estética que se distinga justamente da "pegada comercial" de um Minha Mãe É Uma Peça 2 e, se não faltam bocas por aí presumindo que os filmes brasileiros são essencialmente "esquerdistas", a tal "direita conservadora" também teve a oportunidade de prestigiar a produção conterrânea com Real - O Plano por Trás da História, Polícia Federal - A Lei é Para Todos e um documentário sobre Olavo de Carvalho…

O surgimento da Sessão Vitrine Petrobras, projeto da distribuidora Vitrine Filmes, não poderia ser mais bem-vindo, justamente por sua bem intencionada proposta de de espalhar a produção nacional alternativa (mas dificilmente "independente" ao pé da letra), revelando bons títulos como Divinas Divas (dirigido pela Leandra Leal) e o gracioso As Duas Irenes. No entanto, filmes como O Ornitólogo e Elon Não Acredita na Morte (talvez o pior da seleção do projeto) foram um árduo e tenebroso exercício de paciência e coisas sem nexo, ainda que o exemplar português ainda mereça uma honraria por sua combinação de erotismo e misticismo. Com Elon, foram longos minutos de atuações canhestras buscando um mal-estar social vazio combinado com uma fotografia lúgubre e desinteressante, mas o imoral mesmo foi a nota de imprensa chegar a comparar essa obra com a "estética do pesadelo" da filmografia de David Lynch… Totalmente errado e ofensivo.

2) Corpo e Alma




Inacreditável semifinalista no páreo para os indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, esta fita húngara busca na morbidez e crueldade dos matadouros e nos hábitos estranhos das pessoas (olha aí Toni Erdmann fazendo escola – pra muito pior!) uma tentativa de pinçar uma espiritualidade naquelas figuras que a sociedade costuma negar. O resultado, porém, traz uma sensibilidade barata e passageira…

De fato, Teströl és lélekröl é um prato cheio para psicólogos e de entusiastas da psicanálise, ainda mais com tantos elementos freudianos expostos em cena. A começar com os perfis dos personagens, sejam eles os protagonistas e coadjuvantes, tão cheios de mecanismos de defesa e atitudes que visam sempre a vida sexual com referências óbvias […] e outras que beiram a metáforas, tal como o braço paralisado de Endre e sua renúncia pelo desejo carnal ou a crescente libido de Mária no parque.
Uma pena que tais analogias (que nem são tão inéditas assim) e uma ou outra breve cena de bom humor culminem em um filme deveras repugnante não só pelas imagens explícitas do matadouro (contrapostas com closes com os olhares sensíveis do gado), como principalmente no retrato misógino das personagens femininas.

• Leia a crítica completa de Corpo e Alma

1) A Cabana



Enquanto se mostra um filme feito especialmente para emocionar o público com um elenco miscigenado e carismático, além de estimular uma vida sem julgamentos a outrem, ao mesmo tempo, A Cabana é também a obra mais preconceituosa e desinteressante em termos cinematográficos. Replicando as convenções de outros dramas religiosos (não confundir com os épicos bíblicos) ou espíritas aliados a uma direção de fotografia nada simbólica aliada a efeitos visuais esquisitos (vide a projeção bizarra na cachoeira…), o filme reitera, em mais de duas horas de projeção, a auto-indulgência cristã enquanto discrimina o ateísmo e demais culturas religiosas.

[…] o material é repleto de asserções que até vem a calhar numa atualidade deveras intolerante (ou, mais precisamente, na esfera virtual) e não tem receios de abraçar a esperança e a religiosidade na resignação do luto, diferente do premiado Manchester à Beira-mar e suas ações irreversíveis. Todavia, é absurdamente lastimável o fato de que o material, representado na voz da Sabedoria [Alice Braga], insista numa preponderância em afirmar que aqueles que não aceitam Deus estão propensos a cometer o mal, logo quando não faltam exemplos de pessoas ateístas ou seguidoras de outras filosofias que são referências em trabalhos humanitários, além de terem igual capacidade de amar e perdoar o próximo.

Em outras palavras, é como ter acabado de sair de uma missa e, num instante, passar a falar mal dos outros porque o perdão sempre lhe estará garantido.


De bônus e em ordem cronológica de lançamento, fica aqui uma lista dos filmes fracos (e/ou que não são lá de todo o mal, mas tinham tudo para ser bons) do ano e com links diretos para as críticas produzidas aqui no Plano Extra:



Confira agora os MELHORES filmes de 2017 ››


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