quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Bright | CRÍTICA


A ideia por trás do roteiro de Max Landis (roteirista de Poder Sem Limites e filho do lendário John Landis, diretor de Um Lobisomem Americano em Londres e do icônico clipe "Thrilller", de Michael Jackson) era naturalmente fascinante, digna de atiçar qualquer fã de fantasia ou jogadores de RPG. Em um mundo alternativo e contemporâneo, humanos coexistem com elfos, orcs e outras criaturas tidas como mágicas e, na grande Los Angeles apresentada em Bright, impera-se uma discriminação racial mais tensa do que já é na realidade (orcs e homens – negros e latinos – dividem os subúrbios) e, quando um certo artefato mágico cai nas mãos erradas, a situação não poderia se complicar mais – tanto para os personagens da história como para o próprio resultado do filme apresentado pela Netflix.

Conhecido pelo infame Esquadrão Suicida, David Ayer faz de Bright algo bem distante das esperadas aventuras mágicas que ficamos habituados a gostar desde a esporádica produção na década de 1980 ou, anos depois e no ápice do gênero, quando a trilogia O Senhor dos Anéis nos apresentou na melhor forma possível toda essa pluralidade de raças e demais elementos que a gente espera ver sempre e com qualidade pareada. Convicto de que domina a temática, tal como os pontos altos de sua filmografia (seja como roteirista ou diretor) o precedem, Ayer apresenta aqui mais uma fita policial que se orgulha de sua marra de periferia e de seus longos papos-testosterona que podem ser divertidos para um espectador pouco familiarizado com suas obras, mas, no fundo, apenas comprometem o passo da narrativa e a experiência do público que valoriza a ação acima de uma redundante – e aborrecível – verborragia. Em outras palavras, Bright é como se Dia de Treinamento se passasse em Warcraft, porém se atendo apenas a um genérico e análogo discurso sobre preconceito racial.


Afora o curioso pano de fundo estabelecido que coloca orcs como ouvintes e cantores de death metal (nada mais condizente) e elfos com sua elegância imortal (e duvidosa, vide o caso do galã feio Édgar Ramirez em uma função confusa), além de que a contrastada fotografia de Roman Vasyanov torna os cenários bem críveis por sua poeira ao ar, Will Smith, Joel Edgerton e Noomi Rapace fazem o possível para que a história seja divertida dentro de cada brecha. Nesta bem-vinda reversão de papéis, a atriz sueca se porta como uma mordaz assassina élfica enquanto Edgerton emprega carisma para seu orc policial cuja confiança é (irritantemente) questionada pelo policial de Smith que, pra variar, cada vez mais faz questão de surgir onipresente e valoroso em seus papéis.

Botando pra tocar uma nova seleção de músicas à moda topzera, vide as vendas expressivas da trilha de Esquadrão Suicida (só que com interrupções e em frequências menores do que no filme da DC), é inegável que David Ayer perdeu outra grande oportunidade de se lançar com um rico material em mãos enquanto se vê apegado aos seus fetiches estéticos e arquétipos – coisa que ainda me incomoda no seu conciso Corações de Ferro. Enfim, se o futuro for brilhante mesmo para uma continuação de Bright, que os seus responsáveis caiam na real de que nem sempre se há uma varinha para reverter os erros em cena.




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