quarta-feira, 20 de outubro de 2021

DUNA – a profundeza dos sonhos de Villeneuve | CRÍTICA

 

A nova adaptação de Duna é primorosa. É como se não houvesse precedentes, mesmo diante da existência da versão de David Lynch e do projeto nunca filmado de Alejandro Jodorowsky (El Topo). Literatura complexa para alguns a julgar por seu tomo de detalhes tal como o “O Senhor dos Anéis”, parecia até que somente um cineasta em progressão como Denis Villeneuve estava predestinado a dirigir esta nova versão considerando a sua visão criativa e condução impactante atestadas numa filmografia distinta praticamente isenta de falhas. De sua fidelidade às vertentes oníricas e místicas aos contextos geopolíticos que Frank Herbert soube tão bem antever, o diretor canadense projeta um épico audacioso como há tempos não assistíamos.

domingo, 17 de outubro de 2021

Apenas o Sol | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)


O que garante a sobrevivência da cultura de um povo? Acossados pelo baixo assistencialismo das políticas paraguaias e da constante evangelização forçada (como se aquelas dadas desde 1500 não fossem suficientes), os nativos dos Ayoreo tentam viver como podem – e, na maioria das vezes, com pouco. Na intenção de preservar as memórias de sua gente, um homem não se cansa de carregar um aparelho de som já antiquado para gravar as conversas com suas amizades no Chaco paraguaio. 


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O Bom Cinema | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)

 

Traçar a história do Cinema Brasileiro é um exercício feito há tempo considerável por críticos e teóricos, mas também por cineastas que tanto se inspiraram e aprenderam com artistas de outras épocas. Do importante resgate histórico (ainda mais passado o incêndio na Cinemateca), o espectador ganha mais uma boa aula com O Bom Cinema.

Rolê - Histórias dos Rolezinhos | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)



Agraciado com o Prêmio Especial do Júri e com Prêmio do Público no 10º Olhar de CinemaRolê - Histórias dos Rolezinhos quer falar muita coisa porque entende que os assuntos que vem a abordar, seja por imagens de arquivo, por depoimentos e performances, estão intrinsecamente ligados. Entre histórias reais que vão do preconceito a superação, há uma juventude que não se permite mais intimidar.

Carro Rei | CRÍTICA

Matheus Nachtergaele em CARRO REI
 

É um ato de celebração toda a vez em que realizadores brasileiros se empreendem na realização de um filme de fantasia. Custos à parte, firmar uma identidade nacional logo num gênero dominado pela cultura internacional é um exercício e tanto em sua demanda por criatividade. Mesmo oscilando entre altos e baixos, a diretora Renata Pinheiro faz Carro Rei nos entreter com um passeio distópico e consciente.


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Halloween Kills: O Terror Continua | CRÍTICA


É difícil definir o que faz de Halloween uma das franquias mais atrativas do cinema de horror, apesar de a maioria dos seus títulos estar longe de ser algo plausível ou memorável tanto quanto o original de John Carpenter. Nas mãos da Blumhouse, o comeback de 2018 serviu para reavivar o elo de Michael Myers e Laurie Strode omitindo de seu cânone praticamente todas as sequências dadas após o segundo longa e, daí, iniciando uma revisão da violência nos tempos atuais – afinal, seria apenas Michael o agressor na história? Então, se Halloween remetia até em estrutura com o clássico A Noite do Terror, com Halloween Kills, o diretor David Gordon Green aproxima-se da continuação de 1981 com muito mais matança e uma sociedade não menos incendiária.

Subterrânea | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)

Silvana Stein e Negro Leo em SUBTERRÂNEA

Esse talvez seja um dos filmes mais inesperados e divertidos que eu poderia esperar assistir na 10ª edição do Olhar de Cinema. Flertando com as tramas fantásticas de arqueologia, o que o diretor Pedro Urano faz com Subterrânea é uma doida, mas curiosa aventura que funciona dentro dos limites da suspensão da descrença enquanto uma reflexão de sua metrópole.


quarta-feira, 13 de outubro de 2021

O Último Duelo | CRÍTICA

 

Ver Ridley Scott voltando para a Idade Média passados 1492, Cruzada e Robin Hood poderia ser até taxado como um retrocesso criativo, ainda mais quando o cineasta gosta de tornar épico (ou supérfluo?) quase tudo o que toca a ponto de perder a integridade narrativa em prol do mero espetáculo. Curiosamente (e ao contrário do que eu esperava), O Último Duelo demonstra um diretor excepcionalmente lúcido ao retratar um tema cujas contestações eram quase que impensáveis há mais de 600 anos.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Ursa | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)


Imprimir a realidade sem recorrer ao documentarismo é de um empenho digno de todos os méritos, especialmente quando o marasmo do cotidiano parece ser algo tão tentador de expor na tela (muito que por tendências estéticas) ao invés de se debruçar no que realmente importa: o misto de emoções que as personagens sentem e têm que enfrentar ao longo do dia diante de conflitos inesperados; muitas vezes, maior que elas. Nas melhores retratações ficcionais, as adversidades bem escritas e encenadas fazem-nos afligir e nos revoltar junto com os protagonistas carentes de apoio – e estar remotamente ao lado delas é não menos do que uma experiência catártica. Ursa, primeiro longa de William de Oliveira (Aquele Casal), reitera o tato ímpar do cineasta na criação de histórias sensíveis cuja empatia só tende a crescer a cada cena.


Sonhos de Damasco | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)


Ao longo da projeção de Sonhos de Damasco, vemos a diretora Émilie Serri se nortear, entre crianças a idosos, de uma questão central entre os refugiados no Canadá: as memórias que cada um ainda tem de quando viviam na Síria. Seu propósito é nobre, uma vez que teme um iminente desaparecimento do país em decorrência dos impactos da guerra, mas também por sua vontade de se repatriar a partir dessas lembranças coletivas, das próprias (uma vez que a cineasta viajara com a família em algumas ocasiões ao longo dos anos) e daquelas fornecidas pelo seu próprio pai. O que se vê, então, é uma imersiva e criativa experiência e talvez um dos melhores filmes já exibidos na Mostra Competitiva da história do festival Olhar de Cinema.


segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Zinder | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)


Co-produção do Níger com França e Alemanha, Zinder vem a tocar numa ferida que assola o país africano há tempos a ponto de tornar a cidade-título como uma "ovelha negra": o fato de o local ser dominado por gangues lá chamadas de "palais". Entretanto, ao contrário da figura do gângster moldado pelo imaginário do entretenimento e jornalismo por décadas a fio, os homens que integram esses grupos não podem ser vistos como assassinos tais como aqueles da máfia italiana foram pintados, mas pessoas que buscam uma chance de sobrevivência perante a aridez e o sufoco sociopolítico.


domingo, 10 de outubro de 2021

Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: Essa Terra É Nossa! | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)



Exibido na Mostra Olhares Brasil do 10º Olhar de Cinema, sem se esquecer de sua passagem pela Mostra de Cinema de Tiradentes, Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: Essa Terra É Nossa! vem, como documentário de longa-metragem, reforçar o que vem acontecendo há cinco séculos, porém com maior permissividade nos últimos anos: o ininterrupto genocídio e roubo de terras das tribos nativas do Brasil. Em meio ao Vale do Mucuri, no leste mineiro, os remanescentes Tikmũ’ũn registram as injustiças veladas e recontam fragmentos do passado que suplicam para que não se repita.


sábado, 9 de outubro de 2021

Rio Doce | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)


É curioso como nossas vidas, por vezes, parecem seguir ciclos de convergências. Pegamo-nos de surpresa com notícias que podem mudar significativamente os nossos próximos dias, o jeito de pensar e, disso, agir. Entre o Rio Doce, competente longa de estreia do diretor Fellipe Fernandes e nome do bairro mais populoso de Olinda, um jovem pai transita entre receios e frustrações da vida adulta.

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Estilhaços | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)


Filmes consistidos de imagens de arquivos podem ser estranhos a quem busca ter uma experiência visual atrativa, mas é inegável o poder que aquelas gravações de um passado "eternizado" podem trazer ao longo do tempo. No caso de Estilhaços (Esquirlas, no original), ótimo longa de estreia da cineasta Natalia Garayalde, há muito mais do que uma compilação de vídeos familiares evidenciando o estilo de vida argentino da década de 1990, mas a exposição de um terrível crime acobertado por forças maiores.


O Protetor do Irmão | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)


O representante da Turquia e da Romênia na Mostra Competitiva do 10º Olhar de Cinema tem um tanto de Abbas Kiarostami, com o seu singelo Onde Fica a Casa do Meu Amigo?, e algumas similaridades com o ótimo CafarnaumO Protetor do Irmão (Okul Tıraşı, no original), tal como os outros títulos mencionados, vem a focar no esforço de um garoto em manter a sua alma inocente em meio a adultos tão perversos, vaidosos e gananciosos.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Venom: Tempo de Carnificina | CRÍTICA


A expressiva bilheteria que Venom alcançou com seu filme-solo em 2018 era algo inexplicável. Para mim, nem mesmo a dedicação de Tom Hardy como Eddie Brock e seu alter-ego simbionte foi o suficiente para me entreter com um filme feito com uma década de atraso, mas tão ávido em garantir uma sequência que até a sua cena pós-créditos era mais promissora graças ao semblante maníaco de Woody Harrelson, deixando os fãs do personagem co-criado por Todd McFarlane na ansiedade por um clássico embate dos quadrinhos. Venom: Tempo de Carnificina, pois então, trata de cumprir tamanha expectativa enquanto não abre mão de suas insistentes ressalvas anteriores.