Primeiro longa 100% animado dos Looney Tunes a ser lançado nos cinemas diverte na mesma medida em que cai no esquecimento.
Primeiro longa 100% animado dos Looney Tunes a ser lançado nos cinemas diverte na mesma medida em que cai no esquecimento.
Mente criativa e prolífera, Steven Soderbergh não se permite ficar pra trás e é curioso como o diretor de tantas obras marcantes como Sexo, Mentiras e Videotape, Erin Brockovich, Onze Homens e Um Segredo e até Magic Mike, sem se esquecer de seus experimentos com iPhone entregando Distúrbio e High Flying Bird, sempre tem o que contar no cinema buscando meios intuitivos. Em tempo em que presenciamos dois filmes do diretor em cartaz ao mesmo tempo (Código Preto, todavia, tem lançamento original mais recente), Presença chega como um exercício de estética que parece coisa da A24.
Novo filme de Paolo Sorrentino tem cara de ter sido lançado fora de seu tempo, principalmente pela abordagem sobre personagens femininas.
Seria pernicioso dizer que há um clima de estafa quando mais um filme sobre o narcotráfico do Rio de Janeiro toma as telas logo quando a pluralidade de nosso cinema vem esbanjando uma miríade de histórias que precisam ganhar mais visibilidade e derrubar, por definitivo, o estigma de gente mal intencionada dizendo que a filmografia brasileira só compreende os "filmes de favela". Entretanto, Vitória traz um olhar distinto para tal segmento enquanto adapta um caso verídico de resiliência perante o caos na esperança a se fazer o certo, apesar de todos os riscos de se perder tudo.
Há um grande desejo no cinema queer em se desvencilhar de narrativas tristes e finais nada favoráveis aos protagonistas, ainda que a recente investida na abordagem do "amor líquido" demonstre ser uma temática já em desgaste a partir de títulos (13 Sentimentos, por exemplo) que poderiam entregar um escape mais catártico para essa realidade. O que antes não faltavam narrativas patológicas reservando desfechos infelizes aos protagonistas, agora, o maior problema é encontrar um parceiro ideal enquanto se reveza entre relações frívolas. Se O Melhor Amigo acaba batendo nessas mesmas teclas atuais, são os seus elementos diferenciais que tornam a narrativa divertida de acompanhar.
Desvencilhar a ficção científica de uma crítica socioeconômica é algo impensável, ainda mais quando seu conteúdo traz e provoca reflexões sobre o tempo em que foi criado quase que em uma prevenção a futuros pouco utópicos. Por outro lado, a continuidade de narrativas similares ao longo dos anos acarreta em um desgaste do que antes era um maior diferencial, o que faz com que Mickey 17 não seja a mais revolucionária das obras à parte de seu entretenimento.
Existem coisas na vida que hesitamos em prosseguir por algum trauma que apenas parecia sepultado no passado, bem como deixamos outras coisas acontecerem pelo simples fato de não querer se lotar de outros problemas além daqueles que nos são particulares. Visando amplitude sem lá muito tato, Pequenas Coisas Como Estas é falho em seu diálogo e em sua exposição sobre traumas nem sempre internos.
É inegável que, em conversas sobre música, sempre vai ter alguém (em um misto de raiva e desespero) para dizer como as músicas e artistas atuais são de baixa qualidade se comparados aos das décadas passadas, culpabilizando ainda a juventude por não gostar do que a pessoa tanto exalta. Que culpa os jovens teriam de desconhecer um artista que há tempos não lança novas músicas ou até mesmo prefere o anonimato após muitos anos de estrada? Como um ato conjunto de rememoração e formação de repertório aos mais novos, as cinebiografias cumprem parte desse papel de apresentar um artista tido lendário em uma trama repleta de intrigas que movem a trama, mas, passados tantos filmes, o que Um Completo Desconhecido vem a trazer de novo ao cinema?
De tempos em tempos, aparecem alguns filmes que extravasam em sua estética para tornar um drama ordinário em uma epopéia suntuosa, além de apostar em uma complexidade narrativa que, por vezes, se estende além do necessário em sua proposta de ter muito a dizer e a mostrar. Tal como as edificações do movimento arquitetônico que lhe dá título, O Brutalista almeja ser um cinemão de arte portando uma austeridade narrativa que se torna muito interessante pelo conjunto da obra.
Ainda que tenha uma corrente maligna persistente em desdenhar qualquer incentivo à cultura, o exercício artístico segue comprovando o seu poder de transformação – e isso que nem estou falando sobre a experiência do meu filme Outros Abrigos. Mais do que um compartilhamento de um estudo de caso eficaz, Sing Sing é um retrato híbrido não intromissivo do que a arte pode contribuir ao cárcere.
Como pode Emilia Pérez ser um filme tão premiado em sua jornada iniciada no Festival de Cannes ao mesmo tempo em que se tornou alvo de ojeriza (desde já, muito que justificada, em partes) da comunidade cinéfila, ainda mais com suas 13 indicações ao Oscar? Candidato francês para o Oscar de Melhor Filme Internacional, porém falado em espanhol e "situado" no México, o longa assinado por Jacques Audiard (mais conhecido por Ferrugem e Osso) revela ter uma boa disposição em querer se desvencilhar das mesmices dramáticas que sua história poderia ser conduzida, mas sua gana por virtuose é tanta que acaba se esquecendo de ter maior sensibilidade com os temas que decide abordar.
Muito se fala – e até se ensina – que a Guerra Fria não fora um conflito armado direto entre Estados Unidos e União Soviética, tendo a corrida espacial como uma narrativa amenizadora para todos os podres que ambas as nações cometeram em outros países e até mesmo contra sua própria gente. Relatos desvelados ao longo dos anos só intensificam a má reputação que os EUA, em sua pompa super-heróica contra o comunismo malvadão, revelando uma política de extermínio motivada por conspirações dadas pelo menor sinal de "ameaças" a sua hegemonia. Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado só reforça como o país norte-americano é tão bom em vender sua cultura quanto aniquilar a quem decide ser um perigo.
Quando atores tendem a assumir a cadeira de direção, é um feito que merece atenção pela expansão de sua expressividade não mais restrita a parte da atuação ainda que, no fim das contas, pode ser apenas uma progressão de cargo sem muito diferente a contar. Em seu segundo longa como diretor, além de assinar o roteiro e co-protagonizar a narrativa, Jesse Eisenberg mais parece seguir os passos de um icônico cineasta com quem já trabalhou na década passada enquanto sobrecarrega a trama com mais humor do que o necessário.
De tempos em tempos – e isso, acho, tem uns cem anos –, todas as narrativas envolvendo androides no cinema acabam revelando figuras que fogem do controle de sua criação e estimam por maior liberdade, apesar dos caminhos e atitudes contraditórias que tomam contra a humanidade (que até faz por merecer, dependendo do caso). Foi assim com Metrópolis, Blade Runner, O Exterminador do Futuro, Ex-Machina, a série Westworld (em sua expansão do filme da década de 1970) e tantas outras obras que repetem esse paradigma, buscando algum tipo de originalidade apesar de artifícios quase sempre repetidos. Alçando estilo, Acompanhante Perfeita aposta em sua roupagem romântica para encobrir ressalvas.
Nos últimos vinte anos, o mundo pôde acompanhar a eleição de dois novos papas e todas as cerimônias que circundam esse processo que recai toda a atenção perante a Igreja Católica, que muito parece gostar disso em tempos nos quais a doutrina vem perdendo fieis para outras doutrinas neopentecostais que usam e abusam da positividade tóxica e da roupagem freestyle em suas deturpações do mito da Caverna de Platão. Para a Igreja em si, é também um tempo de renovação de votos, ou melhor, de como vai comandar sua influência tendo um novo líder político e o que seus direcionamentos hão de lidar com isso. Após o ótimo Habemus Papam (2011), de Nani Moretti, chegou a hora de mais um confinamento cardeal com Conclave, que surpreende com a sua condução ao lado de um texto afiado.
Com interesse debruçado nos mais diferentes tipos marginalizados que compõem a civilização estadunidense e, disso, extraindo narrativas que exultam a realidade tragicômica dessas pessoas, Sean Baker (Tangerina, Projeto Flórida, Red Rocket) conseguiu atrair o interesse da crítica e festivais em uma trajetória que culminou, no último Festival de Cannes, na entrega da Palma de Ouro para Anora, seu mais novo filme que, apesar de tamanha láurea, demonstra sinais de fadiga da estética do cineasta que, um dia, já foi seu maior diferencial.
Há algo de fascinante nas cinebiografias dirigidas por Pablo Larraín, diretor por trás de títulos biográficos como Spencer e Jackie (isso sem se esquecer da bomba recente O Conde). Tudo é filmado com elegância, com uma condução que esbanja sobriedade em seu retrato de passados melancólicos, deixando o espectador cada vez mais hipnotizado em querer descobrir sobre aquelas pessoas de aparências tão glamurosas, porém, como vem a se descobrir, escondem almas melancólicas. Encerrando, então, esta trilogia informal de grandes mulheres do Século XX, é com Maria Callas que Larraín se prova um enxadrista ao utilizar o melhor da linguagem cinematográfica para recontar uma história de vida memorável ainda que se entregue pouco emocionante.
Passada a experiência traumatizante de Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo, a estreia de Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa é uma lufada de entretenimento certeiro enquanto se faz uma nova versão de um dos personagens mais queridos criados por Mauricio de Sousa. Com produção caprichada, a aventura interiorana diverte por sua ode a imaginação infantil enquanto revive o legado de um dos gêneros mais icônicos do Cinema Brasileiro.
Quando artistas expressam seus desejos em filmar um projeto de tamanha estima, o resultado costuma ser de igual apreço, vide os tantos anos que George Miller dedicou em tirar Mad Max: Estrada da Fúria do papel, muito embora propostas emocionadas como o Megalópolis, de Francis Ford Coppola, não caíram lá no gosto do público. Fazia tempo também que Robert Eggers, um dos nomes mais célebres do terror da última década, há muito desejava fazer sua própria versão de Nosferatu. Nas mãos de quem entregou A Bruxa, O Farol e O Homem do Norte, é como se o conto do horripilante Conde Orlok fosse uma obra inédita tamanha inventividade em expandir o longa de 1922.