terça-feira, 11 de março de 2025

O MELHOR AMIGO – em harmonia colorida | CRÍTICA

Vinicius Teixeira em O MELHOR AMIGO
 

Há um grande desejo no cinema queer em se desvencilhar de narrativas tristes e finais nada favoráveis aos protagonistas, ainda que a recente investida na abordagem do "amor líquido" demonstre ser uma temática já em desgaste a partir de títulos (13 Sentimentos, por exemplo) que poderiam entregar um escape mais catártico para essa realidade. O que antes não faltavam narrativas patológicas reservando desfechos infelizes aos protagonistas, agora, o maior problema é encontrar um parceiro ideal enquanto se reveza entre relações frívolas. Se O Melhor Amigo acaba batendo nessas mesmas teclas atuais, são os seus elementos diferenciais que tornam a narrativa divertida de acompanhar.


Conhecido pelo elogiado Pacarrete, o diretor Allan Deberton retorna com uma história de pertencimento, de busca pelo amor ideal apesar de toda a oferta que surgem nos apps de relacionamento, boates ...e onde mais surgir oportunidades. Acompanhando Lucas (Vinicius Teixeira) em uma jornada de redescoberta após se sentir sufocado por um namorado manhoso, o jovem arquiteto ruma ao litoral de Canoa Quebrada para encontrar Felipe (Gabriel Fuentes), um amigo pelo qual havia desenvolvido uma grande atração, mas que acabou sumindo após o primeiro beijo. Em sua jornada, o cenário paradisíaco da cidade torna tudo mais vívido, colorido e até sensualizado, mas será que Lucas vai conseguir o que parece tanto desejar?

Claudia Ohana e Vinicius Teixeira em O MELHOR AMIGO
(© Vitrine Filmes/Divulgação)


Adaptando a história de seu curta-metragem homônimo (lançado em 2013 e estrelado por Jesuíta Barbosa), todavia, assinando o roteiro agora com Raul Damasceno, Otavio Chamorro e Pedro Karam, Deberton conduz Lucas pelos mais diversos cenários da vivência gay contemporânea, desde as baladas com shows de drags (com destaque para a cearense Deydianne Piaf), a "caça" nos aplicativos até às relações não-convencionais enquanto insere as passagens icônicas de seu curta premiado (o telefonema anônimo no bar, a colher de brigadeiro) entre outras situações que, no fim das contas, não se desenvolvem ou se conectam como esperado. 


As participações estelares de Cláudia Ohana, Matheus Carrieri e Gretchen não se estendem além de sua prévia no trailer, embora funcionais à jornada do protagonista e também a do seu (suposto) amado, enfraquecendo motivações que já não eram lá muito assertivas. Se a ideia era se desvencilhar de um "final feliz" previsível, acaba que as atitudes de Felipe pendem para uma indecisão que há de frustrar quem, como dito anteriormente, busca na tela um ato que difere do que já vive na realidade frustrante.


Vinicius Teixeira e Gabriel Fuentes em O MELHOR AMIGO
(© Vitrine Filmes/Divulgação)


Ainda assim, o maior charme e o maior acerto de O Melhor Amigo são suas cenas musicais justamente por toda a sua ousadia em propor algo novo e sem receios de assumir a galhofa. Enquanto nos recuperamos do trauma cringe causado por Emilia Pérez, o resgate de hinos do pop oitentista (mérito para a releitura de "Perigo", de Zizi Possi, na voz suave de Vinicius Teixeira) se faz muito funcional para que o filme assuma o seu lado camp, com coreografias criativas e até a direção de fotografia de Beto Martins relembra o estilo visto nos filmes de Almodóvar. 


Enfim, se o clima não era lá pra romance mesmo, a verdade é O Melhor Amigo tem pegada e é divertido.



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