quinta-feira, 13 de junho de 2024

13 SENTIMENTOS – mais do que a vontade de pegação | CRÍTICA



Lembro bem das reações mistas que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho teve em sua estreia, ainda que, quando finalmente pude conferir o longa de estreia de Daniel Ribeiro, não compreendi as tantas queixas que meus colegas de crítica queriam apontar no filme cujo êxito de público (a ponto de ser lançado até em Blu-ray) se dava pelo bom retrato de uma nova geração LGBTQIA+ alheia às preconizações no passado do Cinema Brasileiro. É também um fato quase que inaceitável que o cineasta tenha levado uma década para projetar seu segundo longa-metragem (tivemos uma pandemia no caminho, claro), mas há algo de muito bom neste 13 Sentimentos que o faz síncrono para uma geração adulta… e um espelho do que é tentar vingar como cineasta neste país.


No filme, João (Artur Volpi, muito meigo) acabou de encerrar um namoro que durou bons dez anos e tão logo adentrou o exaustivo ciclo de aplicativos de relacionamento, além de estar determinado a fazer seu primeiro filme, ainda que lhe faltem ideias para concluir o roteiro em tempo das inscrições de editais. Ele quer de tudo um pouco, mas não sabe se está preparado para isso: conhece um rapaz que também gosta de "cinema, democracia e café", mas o contato se faz cauteloso; em outra situação, com um casal "maduro", o lado voyeur o cativa até mesmo a utilizar as habilidades de cineasta em seu favor. No fundo, porém, João ainda é um adepto da monogamia e quer encontrar um novo parceiro ideal, coisa que os matches não ajudam em nada e até fazem seu roteiro claudicar ainda mais entre as suas confabulações por uma narrativa apaixonante.

(Foto: Vitrine Filmes/Divulgação)


Ainda que lhe falte um clima de tesão autêntico semelhante ao que foi visto e sentido no excelente Rivais, e que alguns integrantes de seu elenco mais parecem estar recitando suas falas para uma publicidade, 13 Sentimentos traz um ritmo bastante jocoso de acompanhar a história e, por mais que o protagonista seja possível de ser tachado de "padrão" por uma parcela do próprio público-alvo, é inegável que Artur Volpi entrega um protagonista apaixonante cuja ingenuidade parece até inspirada nos tipos dos famosos doramas boys' love. Toda a sua jornada romântica e profissional aguça a vontade de acompanhar, ainda que a primeira parte já seria resolvida na sequência de entrada de Igor Cosso, mas quem nunca bobeou com um crush?


De qualquer forma, o que me pegou em 13 Sentimentos foi compartilhar com João a peleja em vingar em ser cineasta, algo que tem me abalado crucialmente nos últimos meses. Dos editais que acabam sendo desfavoráveis ao processo criativo a sucumbir por freelances de projetos audiovisuais de gosto duvidoso (e preços/pagamentos terríveis) em prol de ganhar o pão e bancar o aluguel, fazer cinema também é um relacionamento amoroso que precisa ser intenso, dar tempo e espaço e, antes de tudo, da afinidade (que aparece quando a desistência bate à porta), mas que faz tudo isso mais apaixonante.




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