quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

TRILHA SONORA PARA UM GOLPE DE ESTADO – mera coincidência? | CRÍTICA


 

Muito se fala – e até se ensina – que a Guerra Fria não fora um conflito armado direto entre Estados Unidos e União Soviética, tendo a corrida espacial como uma narrativa amenizadora para todos os podres que ambas as nações cometeram em outros países e até mesmo contra sua própria gente. Relatos desvelados ao longo dos anos só intensificam a má reputação que os EUA, em sua pompa super-heróica contra o comunismo malvadão, revelando uma política de extermínio motivada por conspirações dadas pelo menor sinal de "ameaças" a sua hegemonia. Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado só reforça como o país norte-americano é tão bom em vender sua cultura quanto aniquilar a quem decide ser um perigo.


Dirigido pelo belga Johan Grimonprez, o documentário é uma epopeia de acontecimentos que, na soberania de quem escreve a História, se tornam notas de rodapé que ainda causam grandes estigmas em países africanos por mais de 60 anos, neste caso, a independência do Congo dada no início da década de 1960. Debruçando-se em entrevistas, filmes, reportagens e outros materiais, Grimonprez costura associações impressionantes sobre o fim do imperialismo europeu na África em paralelo com a ascensão de músicos de jazz como Duke Ellington, Louis Armstrong e Nina Simone em sua promoção musical não só nos EUA e para a comunidade preta, mas estrategicamente patrocinada nos países com fortes pretensões de abraçarem a URSS. Antes da repressão armada, muito sugerida pelo então presidente Eisenhower, tenta-se vender seu estilo de vida nutrido pelo entretenimento estrangeiro.


(Pandora Filmes/Divulgação)


Para além de 2 horas de filme, Soundtrack To A Coup d'Etat (título original) é um programa maçante por suas tantas legendas atiradas na tela trazendo registros em texto e identificando cada personalidade política e/ou musical, o que não quer dizer que seja desinteressante. Chama a atenção as falas de Nikita Khrushchev, primeiro-secretário soviético, em seu posicionamento contra o domínio neocolonial no Congo enquanto este mesmo país clama por sua independência, concentrado na figura do primeiro-ministro Patrice Lubumba e tão logo tornado alvo. Não se trata (apenas) de um conflito racial, mas também de uma disputa pelas minas de urânio, importante elemento para energia nuclear, abundantes no país.


(Pandora Filmes/Divulgação)

A ser visto com muita disposição, o documentário é uma sequência de apontamentos de dedos para todos os culpados pelas crises humanitárias vigentes – e a montagem, inteligentíssima, de tantas justa-posições bota a bomba nos colos da ONU, da Tesla (previsível, dada a existência do vigarista Elon Musk) e da Apple. E quanto à música no filme? Talvez sempre foi uma cortina de fumaça para um recado mais urgente.



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