segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

A VERDADEIRA DOR …e uma influência conhecida | CRÍTICA

 

Kieran Culkin e Jesse Eisenberg em A VERDADEIRA DOR

Quando atores tendem a assumir a cadeira de direção, é um feito que merece atenção pela expansão de sua expressividade não mais restrita a parte da atuação ainda que, no fim das contas, pode ser apenas uma progressão de cargo sem muito diferente a contar. Em seu segundo longa como diretor, além de assinar o roteiro e co-protagonizar a narrativa, Jesse Eisenberg mais parece seguir os passos de um icônico cineasta com quem já trabalhou na década passada enquanto sobrecarrega a trama com mais humor do que o necessário.


O enredo de A Verdadeira Dor (A Real Pain, no original) é relativamente simples e não é por menos que seu terço inicial seja um programa divertido de acompanhar a se considerar o seu texto ágil combinado com locações ensolaradas. Os primos David (Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin) voam de Nova York para a Polônia a fim de visitar a antiga morada de sua avó, cujo falecimento parece ter marcado ambos, enquanto se juntam com outros turistas judeus para conhecer a cultura de sua comunidade e o impacto deixado pelo Holocausto. Como toda relação entre primos, diferenças irrompem pelo caminho, ainda mais quando a hiperatividade de Benji passa dos limites, o que rende momentos até mesmo constrangedores.


(© Searchlight Pictures/Divulgação)


Sobressaindo-se com um bom retrato contrastante da geração millennial (dividida entre casos de sucesso profissional e da estabilidade financeira-emocional intangível), ainda que não se aprofunde efetivamente nisso, o roteiro quer falar também da relação com os demais companheiros de viagem, do peso de se estar na Polônia sendo descendentes de sobreviventes para, então, regressar ao grande trauma que Benji carrega consigo (daí o título do filme). Há cenas muito boas pelo caminho, sendo a sequência do campo de concentração, inegavelmente, a mais estremecedora por seus detalhes. Com isso, porém, vem uma das maiores ressalvas de A Verdadeira Dor.


(© Searchlight Pictures/Divulgação)

Não é de hoje que Jesse Eisenberg exibe um cacoete em amenizar qualquer elemento de tensão com alguma piada que sequer consegue atingir seu riso porque sua entrada se faz precoce demais, causando mais desconforto do que o riso esperado. Falta-lhe tato na hora certa. A cena no topo de um hotel, em que os protagonistas fumam maconha, por exemplo, atenua toda a marca de sofrimento que fomos informados há pouco tempo ao vermos aquele momento de descontração entre os primos, além de que, no fundo, parece que todo o estigma de Benji não encontrou lá sua catarse.


(© Searchlight Pictures/Divulgação)


De olho no estilo de Woody Allen, Jesse Eisenberg também quer ser um diretor sagaz e sucinto,  demonstrando um alto astral constante com músicas de mesmo clima e até com a fotografia, que preza pelo conforto e apelo turístico. Está indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, mas sigo sem entender plenamente qual era A Verdadeira Dor.



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