quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O BRUTALISTA – deslumbrado na pretensão | CRÍTICA

 

Adrien Brody em O BRUTALISTA

De tempos em tempos, aparecem alguns filmes que extravasam em sua estética para tornar um drama ordinário em uma epopéia suntuosa, além de apostar em uma complexidade narrativa que, por vezes, se estende além do necessário em sua proposta de ter muito a dizer e a mostrar. Tal como as edificações do movimento arquitetônico que lhe dá título, O Brutalista almeja ser um cinemão de arte portando uma austeridade narrativa que se torna muito interessante pelo conjunto da obra.


Com direção de Brady Corbet (Vox Lux), o filme me pareceu uma mescla de vários estilos de outros diretores e filmes em seu conto de mais uma história sobre imigrantes nos EUA. Ao utilizar a película de alto formato VistaVision (e a fotografia de Lol Crawley é um absurdo de tão boa!), O Brutalista me pareceu um filme dirigido por Paul Thomas Anderson (nas suas eras de O Mestre e Sangue Negro) e por Pawel Pawlikowski (Guerra Fria), misturando aí com Era Uma Vez Na América e as trilhas de pianos sublimes dos filmes de Clint Eastwood. Tudo é conduzido para corroborar com a ideia de que o país dominou a sua opulência ao fim da Segunda Guerra em detrimento da mão-de-obra qualificada de imigrantes – mas, neste caso, os refugiados europeus de ascendência judaica.


(© Universal Pictures/Divulgação)

Dividindo a jornada do arquiteto Lásló Tóth em três partes, o roteiro de Corbet e Mona Fastvold ressaltam o deslumbramento originado da alegria e assombro de Tóth em estar na América, mas longe da esposa e da sobrinha, buscando meios para ter um mínimo de dignidade a partir do talento que tem nas mãos. Assim, toda a primeira parte do filme é de uma jornada que, embora predominantemente soturna, cativa o espectador por seus detalhes que vão fazer as pessoas desejarem ter uma biblioteca igual a que o arquiteto planeja. É uma pena que a segunda parte e o epílogo sigam por caminhos irregulares ou, por vezes, bruscos demais, apesar de toda a estética crescente aplicada.


(© Universal Pictures/Divulgação)

O elenco também é ótimo. Se a cara de coitado de Adrien Brody lhe confere deixas tanto para a benevolência quanto para ser irrequieto, quiçá hostil, temos um ótimo Guy Pearce como há tempos não lhe víamos esbanjar atuação, uma Felicity Jones que retorna aos holofotes em um papel que lhe é pouco favorável pela estranheza das ações nas quais é imposta, isso sem esquecer de Joe Alwyn (Tipos de Gentileza) que, de ex da Taylor Swift, entrega o que talvez seja a performance mais interessante de sua carreira.

(© Universal Pictures/Divulgação)

Por todo o seu esmero técnico, eu diria que O Brutalista é um bom filme. À parte de seu discurso sobre imigração se tornar uma pauta sensível no presente momento, há de se honrar o escape da obviedade em seu registro pictórico logo quando Hollywood adoece com decupagens que carecem de imagens que representem mais do que elas já mostram. 



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