Nos últimos vinte anos, o mundo pôde acompanhar a eleição de dois novos papas e todas as cerimônias que circundam esse processo que recai toda a atenção perante a Igreja Católica, que muito parece gostar disso em tempos nos quais a doutrina vem perdendo fieis para outras doutrinas neopentecostais que usam e abusam da positividade tóxica e da roupagem freestyle em suas deturpações do mito da Caverna de Platão. Para a Igreja em si, é também um tempo de renovação de votos, ou melhor, de como vai comandar sua influência tendo um novo líder político e o que seus direcionamentos hão de lidar com isso. Após o ótimo Habemus Papam (2011), de Nani Moretti, chegou a hora de mais um confinamento cardeal com Conclave, que surpreende com a sua condução ao lado de um texto afiado.
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(Diamond Films/Divulgação) |
Desde seus primeiros minutos, Conclave tem um magnetismo que chega a ser difícil de se desprender. Se a trilha potente já prenuncia uma bomba-relógio que até parecia se inclinar para um sensacionalismo brega tipo Dan Brown, o ótimo elenco, que também traz Stanley Tucci, John Lithgow e Isabella Rossellini, e a mise-en-scène ativa de Berger nos conduzem pelos interiores do Vaticano com um texto afiado, repleto de segredos que gritam para ser revelados tornando o decano em detetive em suas indagações sobre os últimos atos do papa falecido. Entre as refeições bem nutridas (feitas por irmãs) e conversas nas escadarias, a busca por um nome ideal começa antes do turno de confinamento.
(Diamond Films/Divulgação) |
Há em Conclave a ressalva do uso recorrente da exposição, isto é, quando personagens se dedicam a explicar verbalmente fatos correndo o risco de tornar a narrativa muito didática. Berger, porém, já se mostrou um cineasta nada preguiçoso e aproveita essas explicações para injetar ainda mais atenção para a narrativa ao mover seu elenco de forma que acompanhar essa movimentação ou até mesmo em dedicar interesse em devidos personagens iluminando-os enquanto mantidos em uma certa posição torna todo o quadro mais inteligente mesmo em planos gerais. É um negócio chique demais.
(Diamond Films/Divulgação) |
Surpresa cinematográfica que torço para que não seja um título frívolo a ser esquecido em tão pouco tempo, mesmo com alguns excessos ocasionais, Conclave já entra naquele grupo especial de obras que a gente já separa para indicar aos familiares que pedem por um filme diferente, mas que seja fácil de entender. Para além disso, é um entretenimento reflexivo que lembra que isso tudo não foi feito só de fé.
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