sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

ANORA – dá para se divertir no sonho americano | CRÍTICA

Mark Eydelshteyn e Mikey Madison em ANORA

 

Com interesse debruçado nos mais diferentes tipos marginalizados que compõem a civilização estadunidense e, disso, extraindo narrativas que exultam a realidade tragicômica dessas pessoas, Sean Baker (Tangerina, Projeto Flórida, Red Rocket) conseguiu atrair o interesse da crítica e festivais em uma trajetória que culminou, no último Festival de Cannes, na entrega da Palma de Ouro para Anora, seu mais novo filme que, apesar de tamanha láurea, demonstra sinais de fadiga da estética do cineasta que, um dia, já foi seu maior diferencial.


Situada (inicialmente) em Nova York, a trama de Anora acompanha a rotina da protagonista-título (Mikey Madison) que muito seduz os clientes de um clube de strip-tease à parte de sua vida solitária morando com uma irmã que mal lhe dá atenção ou se dedica a cuidar da casa. De beleza, físico e habilidades exuberantes, tem quem não goste de "Ani" no recinto, mas também tem quem se apaixone fácil pela moça, como o russo Ivan (Mark Eydelshteyn), que só queria um tanto de diversão de início.


(© Universal Pictures/Divulgação)

Conto urbano sobre uma geração enferma pelo capitalismo tardio, almejando grana fácil da mesma forma que pretende gastá-la com luxos espontâneos, o filme se faz como mais um longo (e esticado, mesmo) capítulo sobre o American dream que os personagens de Baker tanto almejam em meio a sua mediocridade indelével. Ivan sonha em ter cidadania americana para se ver livre de retornar para a Rússia (e não ter que trabalhar no negócio dos pais), aproveitando a conexão que criou com Ani para conquistar isso, enquanto ela não descarta essa vida confortável de geladeira cheia entre outros tantos mimos dados pelo jovem playboy magricelo e desleixado. É claro que muitos serão contra isso e é daí que sai boa parte da graça da sessão.


Anora, por outro lado, é de uma narrativa que parecer querer competir com filmes como a franquia Deadpool em sua contagem de palavrões atiçando performances escandalosas do elenco, fora toda a nudez branda que pode até ser lá apelativa, mas não faz que a montagem seja libidinosa. Não há a tensão entre os corpos porque o desejo conta com o estimulante chamado dinheiro e esse parece ser o entendimento de Baker em sua precaução para que a narrativa não se torne uma pornografia dramática …mas Showgirls não era lá sobre quase a mesma coisa?


(© Universal Pictures/Divulgação)

Exaurindo a paciência do espectador pela redundância prolongada (isso que nem comentamos sobre a ideia de colocar capangas russos perigosos de novo e de novo) e até pelo marketing errôneo, que pinta as artes como se uma narrativa romântica, Anora tem lá uma fotografia bonita que potencializa as locações por onde passa com a lente anamórfica e contém gags físicas que valem o riso pela sua imprevisibilidade, porém, tal como qualquer resolução de Ano Novo, tão logo se torna uma experiência frívola.



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