terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

UM COMPLETO DESCONHECIDO – introdução básica de um ídolo | CRÍTICA

 


É inegável que, em conversas sobre música, sempre vai ter alguém (em um misto de raiva e desespero) para dizer como as músicas e artistas atuais são de baixa qualidade se comparados aos das décadas passadas, culpabilizando ainda a juventude por não gostar do que a pessoa tanto exalta. Que culpa os jovens teriam de desconhecer um artista que há tempos não lança novas músicas ou até mesmo prefere o anonimato após muitos anos de estrada? Como um ato conjunto de rememoração e formação de repertório aos mais novos, as cinebiografias cumprem parte desse papel de apresentar um artista tido lendário em uma trama repleta de intrigas que movem a trama, mas, passados tantos filmes, o que Um Completo Desconhecido vem a trazer de novo ao cinema?


Dirigido por James Mangold (Ford vs Ferrari, Logan), que também co-escreve o roteiro, o filme vem a trilhar os primeiros passos de Bob Dylan na música folk estadunidense no início da década de 1960, logo, um período turbulento na política e na cultura do país. Do contato com seus ídolos da cena, a narrativa conta como o jovem Bob foi conquistando espaço e apreço na vida noturna dos pubs de Nova York até se tornar cada vez mais famoso e até mais transgressor em contrassenso ao estilo musical vigente. Tirando as passagens em que demonstra ser um mulherengo e músico visionário, demonstrando ter ideias de seus riffs marcantes quase que de primeira (a linha de órgão em "Like a Rolling Stone"), o filme se cumpre ao básico apesar de seus paralelos políticos atuais muito que nas entrelinhas.



Monica Barbaro e Timothée Chalamet em UM COMPLETO DESCONHECIDO
(© Searchlight Pictures/Divulgação)


Não que a decupagem clássica e a montagem (inofensiva) pensadas pelo diretor sejam um problema, até porque o filme tem uma boa condução que nos embala por vários hits de Dylan que resistem à ação do tempo e servem como um bom material introdutório, algo que, pelo menos, Timothée Chalamet não compromete em performance vocal, tornando-se aqui o maior chamariz para o público mais novo. O porém é que tudo parece polido demais a julgar por sua narrativa cronológica que não se arrisca em virtuoses estilísticas. Se o elenco coadjuvante é muito bom, é porque Edward NortonElle FanningBoyd Holbrook e Monica Barbaro cumprem apenas papéis funcionais que não se estendem ou impactam significamente a jornada do protagonista.


(© Searchlight Pictures/Divulgação)

Ou, vai ver, Bob Dylan sempre foi um personagem chato que tinha voz e hábitos de velho desde jovem, sendo difícil nutrir algo além da nossa simpatia por Chalamet, que merecia estar indicado mais por sua reprise como Paul Atreides do que neste caso. Para Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown, no original), faltou um pouco da ousadia artística que Maria Callas tem (até demais) e da própria rebeldia que o músico demonstra até hoje. Em suma, um filme que carece de distorção – e não se trata da sonoridade da guitarra.



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