Desvencilhar a ficção científica de uma crítica socioeconômica é algo impensável, ainda mais quando seu conteúdo traz e provoca reflexões sobre o tempo em que foi criado quase que em uma prevenção a futuros pouco utópicos. Por outro lado, a continuidade de narrativas similares ao longo dos anos acarreta em um desgaste do que antes era um maior diferencial, o que faz com que Mickey 17 não seja a mais revolucionária das obras à parte de seu entretenimento.
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(© Warner Bros./Divulgação) |
É bem provável que recaiam comentários coléricos reclamando da politização de Mickey 17, ainda mais quando temos um Mark Ruffalo e Toni Collette praticamente idênticos a casais abjetos de extrema direita (será que todo o interesse do ator pela política brasileira era uma pesquisa de campo?), mas fato é que os filmes de Joon Ho sempre bateram de frente com questões contemporâneas, não só em Parasita (a cena da madame agradecendo pela chuva enquanto seu motorista sofre com enchentes em casa), mas justamente em seus filmes falados em inglês, vide Expresso do Amanhã e Okja. Recorrendo à sátira para escrachar os vilões, o filme contém um bom humor capitaneado pela voz caricata que Pattinson cria para a sua 17ª versão em cena e prova (mais uma vez e sem precisar) porque é um dos atores mais fascinantes da atualidade com várias outras nuances ao longo de todo o filme.
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(© Warner Bros./Divulgação) |
Inspirado no livro "Mickey 7" (o qual não li), é verdade que a sensação de que "já vi isso antes" é uma crescente se o espectador for antenado em todos os passos comuns que outras narrativas de sci fi compartilham entre si e que muito se repete aqui, mas há um diferencial que torna a obra bastante divertida apesar de seu epílogo reforçar uma subjetividade meio oblíqua. Recado dado com sagacidade por um cineasta que não se acomodou, a moral que fica é que (apesar de contradito por quem está por cima) ninguém é substituível.
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