quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

PEQUENAS COISAS COMO ESTAS – conformismo entediante | CRÍTICA


Existem coisas na vida que hesitamos em prosseguir por algum trauma que apenas parecia sepultado no passado, bem como deixamos outras coisas acontecerem pelo simples fato de não querer se lotar de outros problemas além daqueles que nos são particulares. Visando amplitude sem lá muito tato, Pequenas Coisas Como Estas é falho em seu diálogo e em sua exposição sobre traumas nem sempre internos.


Estreando no Brasil praticamente um ano depois de sua estreia no Festival de Berlim, há de se perguntar se havia alguma expectativa para um novo filme estrelado por Cillian Murphy após a sua oscarização com Oppenheimer, sendo até possível dizer que este Small Things Like This (no título original) surge como um projeto desafiador para o ator, incumbido aqui de retratar um homem quase que à beira da apatia total. Murphy vive o carvoeiro Bill Furlong em meio a um vilarejo irlandês de uma ríspida década de 1980, casado, pai de quatro meninas e um trabalhador incansável, mesmo com seu semblante de exaustão. Em pequenos detalhes rotineiros e em conversas com a esposa e filhas, irrompem memórias de sua infância, sobretudo quando a época de Natal parece bem acolhedora.


É improvável que Pequenas Coisas Como Estas queira ser um filme-conforto típico de Natal ainda mais quando se trata de um retrato sobre frustrações. Melancólico e monocórdico, mesmo com flashbackas, a narrativa resgata a tristeza infantil de não receber o presente desejado, da falta do afeto materno e, consequentemente, toda uma questão sobre desamparo familiar que surge nas entrelinhas sem trazer outros pontos de vista e, por mais que traga cenas tristes como aquela do menino pobre se esgueirando para tomar leite numa tigela para animais ou das meninas castigadas no convento (como vem a ser a trama supostamente principal da narrativa), este não é um filme em que os personagens arregaçam as mangas para grandes gestos.


Mais cansativo do que ver O Brutalista por duas vezes seguidas, Pequenas Coisas Como Estas demonstra um outro lado da expressão "a felicidade não se compra", mas com um conformismo entediante que faz a jornada vista parecer irrelevante mesmo para a causa que pouco desenvolveu – isso que tinha o livro homônimo escrito por Claire Keegan em mãos.

 

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