quinta-feira, 12 de maio de 2022

O HOMEM DO NORTE – Vikings em seu estado mais puro | CRÍTICA


A atenção que gira em torno da cultura viking vem crescendo nos últimos anos, principalmente alavancada pela série Vikings, do canal History, que conta a história de Ragnar Lodbrok. Com isso vieram jogos, a popularização da mitologia nórdica em obras da cultura pop e um aumento geral no interesse histórico sobre o tema. Em meio a tudo isso, O Homem do Norte traz um testamento definitivo nórdico das tradicionais obras de vingança que permeiam todas as grandes mitologias que definem a sociedade.


O diretor Robert Eggers, em seu terceiro longa já apresenta um traço muito presente em sua obra, a valorização dos mitos e a pesquisa histórica para basear seu roteiro. Em A Bruxa, acompanhamos um terror folclórico de tempos medievais. Em O Farol, ele traz as tradições marítimas; aqui, em O Homem do Norte, ele abraça alguns dos maiores teóricos vikings do mundo para construir um retrato brutal sobre o desenvolvimento de sociedades bárbaras, que ganharam esse título a partir de uma análise historiográfica romana, com forte condenação ao paganismo tradicional das regiões escandinavas.


O filme trabalha em uma estrutura de capítulos, nos quais há um desenvolvimento de cada parte da jornada de um herói, Amleth (Alexander Skarsgard), que vê seu pai (Ethan Hawke) assassinado por seu tio Feng (Claes Bang) e foge, mas sempre jurando vingança. Ao conquistar uma vila de camponeses, ele conhece Olga (Anya Taylor-Joy) e decide voltar ao seu lugar de origem para consumar a vingança.

Aqui, reside o que há de tradicional no filme, porque de resto, nada ali é comum, começando pelas escolhas na fotografia e no design de produção, com closes no rosto dos personagens que os tornam muito mais assustadores. Além disso, o ritmo lento e contemplativo vai decepcionar muita gente que esperava um banho de sangue de mais de duas horas. A ação acontece pontualmente, entre grandes blocos de desenvolvimento do cenário e dos personagens.


O elenco maravilhoso ainda tem adições pontuais de Björk (que jurou nunca mais atuar no cinema após a experiência que teve com Lars Von Trier) e Willem Dafoe, que, mesmo aparecendo pouco, rouba a cena. Robert Eggers tem um claro estilo, que foca em atuações mais viscerais, voltadas ao teatral, que podem incomodar algumas pessoas. Particularmente não é o tipo de interpretação que eu mais gosto, mas ainda assim é de se impressionar o quanto os atores estão entregues nos papeis.

As sequências de ação são cruas e bem agressivas, mas nada que justifique a classificação indicativa de 18 anos que ganhou no Brasil, a não ser por um detalhe na batalha final, mas que poderia ser resolvido com menor rigor do Ministério da Justiça.

Nesse filme, existem vários detalhes que constroem a trama e, portanto, a sinopse não consegue ir a fundo nos meandros pelos quais a trama perpassa, como por exemplo a relação com os esportes, os espíritos de lobos e ursos e o desenvolvimento do místico através de sonhos e profecias.


O Homem do Norte
(The Northman, no original) é, acima de tudo, um filme que busca a visão de um criador acerca de um período histórico tão fértil como a época bárbara, ao mesmo tempo em que não se caracteriza apenas como filme de ação. Ao ser lançado na época do verão americano (reclamações do diretor quanto aos cortes feitos pelo estúdio davam a impressão de que o filme seria muito comercial), ainda resta muito espaço de piração e uma longa duração para que sejam desenvolvidos todos os detalhes da trama principal.

Esse é um daqueles filmes que vão ser aclamados com o tempo, pois, nesse momento, muitos desavisados podem ir ao cinema e se decepcionarem com a lentidão, com a falta de cenas de ação e até ficarem confusos com as cenas de abstração e psicodelia nórdica, como uma ascensão à Valhala ou rituais de iniciação nos espíritos dos lobos.

Um filme com tantos detalhes parece que ainda guardou muito para uma versão estendida, que se for lançada eu estarei ansioso para poder viver mais um pouco desse tempo viking.



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