Com história delicada, Sol de Inverno nos faz pensar em como seria a vida longe de preconceitos.
Sempre gostei de filmes que exploram processos e Sol de Inverno é um excelente exemplo disso. Na história, acompanhamos Takuya (Keitatsu Koshiyama), um menino que pratica hóquei no gelo e beisebol – esportes tradicionalmente associados ao universo masculino. No entanto, ao observar Sakura (Nakanishi Kiara), ele decide que quer se aventurar na patinação artística. Para ajudá-lo, o professor Arakawa (Sosuke Ikematsu) se encarrega de refinar seus movimentos, permitindo que a dupla seja formada.
Os processos apresentados no filme giram em torno da construção de uma paixão infantil, do aprendizado, do treinamento e da desconstrução de uma imagem. Tudo é desenvolvido com um ritmo cuidadoso, respeitando o tempo necessário para cada etapa e carregado de uma sensibilidade única. O diretor Hiroshi Okuyama conduz esses momentos com uma câmera muito presente, sem recorrer a planos excessivamente estilizados ou fora do comum.
A fotografia dessaturada contribui para a sensação de frio que permeia o filme, embora em alguns momentos adote um tom quase onírico, especialmente durante as sequências de patinação. O sol, presente tanto no título nacional quanto no internacional (My Sunshine), funciona aqui como um coadjuvante. Não oferece calor, mas luz – seja entrando pelas janelas da pista de patinação, compondo a paisagem de um dia no lago congelado ou espreitando por uma sacada. Sua presença marca os momentos mais importantes e felizes do filme, enquanto sua ausência destaca o contraste desses instantes.
O filme aborda também uma série de temas, como a romantização e a desconstrução de papéis de gênero. Takuya, já habituado a outros esportes, precisa aprender postura e equilíbrio para executar os movimentos da patinação artística. Mesmo que sua entrada na modalidade tenha sido motivada por uma paixão infantil, ele aprende muito durante esse processo – uma bela analogia às nossas próprias relações, afinal, quantas vezes não nos aprimoramos para impressionar alguém?
Enquanto refina seus movimentos, Takuya constrói uma amizade com seu treinador, que enxerga nesse processo uma conexão especial entre ele e sua mais brilhante aluna.
Sol de Inverno apresenta uma reviravolta marcante na última meia hora. Não é algo explosivo, mas significativo o suficiente para mudar completamente a percepção que temos do trio principal. A idealização dá lugar à decepção, não por culpa exclusiva de um indivíduo, mas por influência do ambiente em que ele vive. Essa transição é crucial para os rumos do filme, que se torna mais denso e menos acolhedor, mas ainda assim mantém sua sensibilidade.
O filme não adota uma postura punitiva ou "cancela" seus personagens. Em vez disso, expõe as consequências de atitudes equivocadas e como elas impactam todo o entorno.
Sol de Inverno é um exemplo perfeito de um filme contemplativo. Longe de ser arrastado, ele valoriza a construção cuidadosa de seus processos e o tempo necessário para cada um, ao mesmo tempo em que aborda de forma sensível a ruptura repentina de laços provocada pelo preconceito.
Confira o trailer legendado:
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