domingo, 23 de junho de 2019

Turma da Mônica - Laços | CRÍTICA


Talvez por estar há cinco décadas no imaginário dos brasileiros e com traços quase que imutáveis, era difícil imaginar que, um dia, a Turma da Mônica teria uma versão realista no cinema além de seus tantos longas animados que marcaram a infância de muita gente com um time de dubladores que preencheu a personalidade do quarteto de crianças e seus amigos; algo que, de certa forma, dificulta a recepção para aqueles que preguiçosamente refutam qualquer novidade. Sendo, então, seu primeiro filme em "live action" cheio de expectativas, pode-se dizer que, enquanto bem aproveita do favorável cenário do entretenimento audiovisual,  Turma da Mônica - Laços serve como um agradável convite aos mais novos para conhecer esse tão jocoso e inclusivo mundo desenhado por Maurício de Sousa, que também deve contentar os fãs de longa data com suas icônicas referências.

Antes de quaisquer detalhes técnicos, é preciso ressaltar o quanto as coisas em Laços parecem ser feitas com carinho. Tudo tão é bonito e colorido em tela que dá gosto de assistir! Seja pelos figurinos de peças básicas das crianças, das casas aconchegantes ao clima pacato e ensolarado da arborizada Limoeiro, sem contar na ausência de aparatos digitais em cena, a experiência de imersão não poderia ser menos agradável e nostálgica considerando todos esses atributos em uma história concentrada em reforçar o valor da amizade.


No centro das atenções pela liderança do grupo – dentro e fora das personagens, diga-se de passagem –, estão Mônica (Giulia Benite) e Cebolinha (Kevin Vechiatto) que, após ter o seu esverdeado cachorro Floquinho surrupiado na calada da noite, convoca a sua "inimiga" (que tanto chama de "golducha e dentuça"), além de seu fiel amigo Cascão (Gabriel Moreira) e a comilona Magali (Laura Raseo, pontualmente ótima), para descobrirem quem foi o ladrão enquanto o Seu Cebola (Paulo Vilhena) e a mãe demoram para agir. Obviamente, as crianças vão mais longe do que o esperado e se deparam com várias surpresas (e referências para os fãs) que seja pelos tantos "planos infalíveis", brigas, gentilezas ou pela humildade de reconhecer o que o(a) amigo(a) faz melhor, a turminha entende a importância de ser unir mediante as provações que só tendem a reforçar seus nós.


Dirigido por Daniel Rezende, que nos conquistou com o ótimo Bingo: O Rei das Manhãs em 2017, fato é que o roteiro de Turma da Mônica - Laços assinado por Thiago Dottori (inspirado na graphic novel homônima dos irmãos Vitor & Lu Cafaggi, a qual não li) não convence muito além de seu propósito amistoso. A trama detetivesca é rodeada de furos e de uma previsibilidade irritante que se reflete na decupagem dos planos e, consequentemente, em seu corte, com as ações se estendendo mais do que o esperado ou amenizando seu impacto. Em outros casos, a cena do Louco (Rodrigo Santoro, inspirado) parece uma deslocada adição de luxo enquanto a cena em que o vilão dubla e dança ao som de Fagner irrita pela sua construção amadora, retardando ainda mais o terceiro ato e sua resolução que não precisava ser tão complicada. De maneira alguma, dividir os personagens meio que cumprindo fases de um jogo nessa parte é um acerto da direção, que parece confiar no conhecimento prévio do espectador sobre as fraquezas e qualidades de cada personagem.

Carente da diversidade que se vê estampada nas páginas dos quadrinhos mais recentes da editora (a não ser por uma ou outra referência em jornais), de um texto bem menos decorado que se apoia em uma trilha sonora incessante que tenta reforçar emoções, ainda assim, é inegável que estamos diante de um novo fenômeno para o cinema brasileiro a partir do momento em que a produção não só pensa no que vemos agora em Turma da Mônica - Laços, mas como deixa várias e divertidas pontas soltas para um promissor futuro cinematográfico.



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