quarta-feira, 12 de junho de 2019

De Novo Outra Vez | CRÍTICA (8º Olhar de Cinema)


O que define ser mãe em pleno século XIX quando há muito a fazer e conquistar antes mesmo de aderir à maternidade? Dados estatísticos à parte, para a diretora argentina Romina Paula, foi preciso sair de Córdoba acompanhada de seu pequeno filho Ramón para revisitar sua mãe, amigas e todas as memórias que, juntas e projetadas até mesmo na parede, resultam no reflexivo De Novo Outra Vez.


De certa forma, o longa argentino conversa em alguns aspectos com o tocante Casa, companheiro de Mostra Competitiva no 8º Olhar de Cinema, apesar de Letícia fugir da ideia de ter filhos e da quase inexistência de atritos entre Romina e a mãe. As semelhanças compartilhadas, então, residem na narração em primeira pessoa, no resgate das fotos de familiares, no traço da árvore genealógica ao contar as origens de cada ascendente focando em detalhes como trabalho e educação – revelando aí antepassados que conseguiram ser mais privilegiados do que aqueles de Letícia.

Fazendo bom uso de elementos sonoros e uma boa direção de fotografia de Eduardo Crespo, que não tem receios em fazer imagens próximas e bonitas (além da boa captação de externas), Romina segue uma narrativa híbrida em que transita entre a exposição de seu cotidiano e alguns segmentos fictícios que a auxiliam em sua reflexão. Por mais que tudo o que é visto no filme pareça uma reclamação de barriga cheia, a cineasta personagem se vê em questões compreensíveis. Distanciada do namorado há um tempo, ela pensa em se apaixonar e curtir as festas, mas quem ela se tornou após a chegada e o crescimento de Ramón? Por que existe essa tal crise dos 40 anos?

Sucintamente poético e com seu humor neutralizado, De Nuevo Otra Vez (título original) é um filme que acaba ascendendo mais questões ao invés de quitá-las, como de costume no culto e afável cinema argentino.



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