segunda-feira, 10 de junho de 2019

Bimi, Shu Ikaya | CRÍTICA (8º Olhar de Cinema)


A História do Cinema Documentário denota: pouco se viu índio fazendo filme sobre si ou acerca de sua etnia. Enquanto isso ficou por décadas a cargo do "homem branco", primeiro por finalidades didático-institucionais e posteriormente pelo exercício pessoal de alteridade, é com alegria ver que existam títulos como Bimi, Shu Ikaya surgindo nas telas e, principalmente, figurando em festivais como o Olhar de Cinema e sua pertinente Mostra Olhares Brasil.

Dirigido pelo trio Isaka Huni Kuin, Zezinho Yube Huni Kuin e Siã Huni Kuin – todos pertencentes à tribo que lhes dão o sobrenome –, o documentário muito que participativo se debruça sobre o fascinante caso de Bimi, avó de Isaka e pajé da aldeia Segredo do Artesão, Tarauacá, no Acre. Curandeira munida de recursos naturais que junta a partir do caldo de folhas específicas até rituais diversos, vemos Bimi guiar as mulheres e meninas na colheita de algodão, batata-doce e daí nos seus momentos cotidianos que, seja num momento de refeição, festa ou enfermidade, comprova a ligação da pajé com a Natureza – e como isso é importante!

(Papo de Cinema/Reprodução)

Definitivamente muito melhor filmado do que A Cor Branca, proporcionando-nos uma experiência imersiva o suficiente pelos arredores da tribo e pelos costumes desta empregando closes bonitos de se ver, o jovem cineasta compartilha de um propósito nobre da matriarca: o compartilhamento da sabedoria, mas utilizando a força das imagens em movimento. Apesar do sincretismo de hábitos presentes em suas roupas e demais hábitos (uma música típica tocada por jovens é acompanhada pelo violão, mas não há mal algum nisso), Isaka entende que a verdade, o conhecimento e a cura também podem ser difundidos por filme ao seu povo, mantendo a chama acesa do legado dos ancestrais dele e de Bimi, que clama a Rua Buse para lhe ensinar as forças da cura; ela que é dita ter "o poder do sopro".

Necessário por seu exercício e difusão, Bimi, Shu Ikaya é consciente da cosmologia que o circunda e um convite para conhecermos mais sobre a cultura indígena (tão ofuscada) que é fascinante só de longe, mas é também empático quando o trio de realizadores aparece caminhando e deixa uma pergunta no ar: e se o povo não fizesse arte? Não por menos, uma indagação que surge com nuvens escuras ao fundo.



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