Dando largada a mais uma cobertura do Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, que chega a sua 8ª edição com uma organização afiadíssima e atividades que celebram a vida e o cinema em todos os seus aspectos, meu primeiro dia de evento correu por fora da Mostra Competitiva, direcionando minhas atenções para a programação rolando no novo e mui aconchegante Cine Passeio.
No caso, bem acompanhado das turmas do Curso Técnico em Produção de Áudio e Vídeo do IFPR, pude conferir a sessão de curtas da nova mostra Pequenos Olhares que, como o nome já entrega, busca dialogar com o público juvenil em busca de se ver representado nas telas em histórias admiráveis.
Em projeção seguida de um filme colombiano e dois brasileiros, o que se viu em cena foram personagens periféricas, mas de fortes convicções e também guiadas por receios. Confira as minhas impressões para cada filme abaixo:
Impermeável Pavio Curto (2018)
Dirigido por Higor Gomes e situado no interior de Minas Gerais, a narrativa permeia a (para muitos) rebelde Jaqueline, que parece ser estranha e deslocada. Morando com uma tia religiosa e tendo arrumado encrenca com uma garota do colégio a ponto de o incidente virar mote para memes nas redes sociais, Jaqueline conta com sua bicicleta para a sua cota de escape diária.
É interessante como o diretor faz uma decupagem enxuta para contar esta história, sempre valorizando a profundidade de campo e evitando closes que tornariam a montagem tradicional demais. Neste conto onde predominam personagens femininas, fica a mensagem de que elas não pretendem se estagnar, rumando por trabalho (ao som de Clara Nunes) ou pela pureza da liberdade juvenil.
Alma (2018)
Da Colômbia para o mundo, Alma já demonstra um esquema de imagens mais focado aos detalhes do que seu antecessor de projeção. Ao contar a história de uma garota-título que está lidando com a questão hormonal da adolescência, além da educação sexual na escola, o diretor Santiago León Cuéllar nos guia por uma história de receios típicos dessa fase turbulenta.
Ao contrário das demais garotas, porém, Alma tem suas diferenças e tenta evitar o colega (e fotógrafo) Victor o máximo que pode, apesar do interesse mútuo. Válido por seu tato na questão da representatividade de meninas trans, é curioso perceber que a personagem busca no gótico e no heavy metal (logo um dos gêneros musicais com mais posicionamento de conservadores) o seu escape para desilusões.
Negrum3 (2018)
Talvez o filme mais audacioso da sessão, Negrum3 é um documentário de afirmação da negra e negro LGBT que há anos clama seu espaço de direito. Fã confesso de ficção científica, o diretor Diego Paulino visa aplicar os conceitos do afrofuturismo (a ideia de um amanhã positivista para a negritude) usando e abusando de performances que parecem saudar o excelente documentário Paris Is Burning.
Dando voz a jovens que fogem dos ditos "padrõezinhos", Diego vai atrás de onde essa gente que recorre à criatividade vai para ser feliz e queer com uma montagem de efeitos enérgicos e impactantes. Todavia, o destaque máximo fica com Aretha Sadick e seu poderoso manifesto evocando as figuras célebres que definem a negritude contemporânea e a urgência de ser resistência.
A mostra Pequenos Olhares - Jovem conta com mais uma exibição na sexta (7), às 15h45.
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