terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos | CRÍTICA


A abdicação das coisas. Talvez uma das tarefas mais difíceis quando se trata de uma despedida. Se nos três filmes de O Senhor dos Anéis presenciamos esse impasse perseguindo Frodo e os demais membros da Comitiva do Anel, é com o episódio final de O Hobbit que se chega à conclusão de que o diretor Peter Jackson ou não aprendeu nada ou se esqueceu dos ensinamentos presentes nas obras de J. R. R. Tolkien, as quais, ainda assim, dedicou muito esforço para levar às telas da melhor forma possível.

Sendo o único filme da série ausente de um prólogo, Smaug (Benedict Cumberbatch) começa sua vingança contra os “montadores-de-barris” e ataca a Cidade do Lago e, não muito longe dali, Thorin (Richard Armitage) se aproveita da escapada do dragão para retomar o vasto tesouro de Erebor, a ganância se apoderando cada vez mais do novo Rei Sob a Montanha. Enquanto isso, a legião de orcs de Azog (Manu Bennett) se aproxima da Montanha Solitária e o irredutível Rei Thranduil (Lee Pace) também tem seus interesses voltados para o reino dos anões, levando também um exército consigo. Enquanto Gandalf (Ian McKellen) é mantido aprisionado em Dol Guldur, Bilbo (Martin Freeman) tenta amenizar o clima de guerra entre os Povos Livres da Terra-média, mas os esforços do hobbit são pequenos perto da tempestade que se aproxima.

Diferente de seus antecessores, A Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit - The Battle Of The Five Armies) é o que possui uma narrativa mais ágil e ainda se mantém fiel a muitos elementos do livro original, mas é nos enxertos criados por Jackson e seus parceiros roteiristas (Philippa Boyens, Fran Walsh e Guillermo Del Toro) que o perigo reside. Muitos incidentes criados – e mantidos – a esmo, personagens coadjuvantes não tão importantes, sobretudo o desnecessário Alfrid (Ryan Gage) surgindo como alívio cômico pra tudo, chegam a ofuscar as ações dos personagens principais.


Por sorte, o foco na relação de Bilbo e Thorin fica bem estabelecido, respeitando seu cânone, e é um dos pontos fortes do título, diferente de toda aquela teimosia cansativa do anão pelo hobbit inventada pelos roteiristas nos filmes anteriores. Há um espaço de tela dedicado para mostrar a crescente obsessão de Thorin pelo tesouro, tomado pela “doença do dragão”, ainda que bastante escorregadia – enquanto o diretor parece ter acertado ao inserir a voz de Smaug enquanto o anão profere palavras gananciosas, toda essa construção desaba posteriormente quando uma cena beirando ao surreal se excede de forma artificial.

É lamentável também que o filme careça de uma guerra a se emparelhar com as batalhas do Abismo de Helm (de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres) e a do Cerco de Gondor/Campos do Pelennor (de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei). Muito embora a culpa recaia no próprio Tolkien, que descreveu a Batalha dos Cinco Exércitos de maneira superficial, porém bem pontuada, aqui os efeitos digitais se sobrepõem e fica gritante a artificialidade exposta em primeiro plano. Soldados do exército élfico surgem com rostos praticamente idênticos, anões e orcs aparecem com um design pouco caprichado e distinto, parecendo que foram retirados dos jogos de estratégia criados pela EA Games há dez anos.



Não bastassem esses detalhes, a aparição de Dain Pé-de-Ferro (Billy Connolly) montado num porco selvagem é bastante divertida, evocando seu forte sotaque com provocações aos elfos de Thranduil, chega a ser incompreensível a decisão do diretor em substituir o ator por um personagem digital, mantendo apenas sua voz, ainda que possua um visual interessante. O mesmo pode-se dizer para Azog, Bolg e toda a sua corja de orcs digitais. Por mais que seus atores confiram toda a crueldade aos personagens, a falta de uma textura mais realística faz com que os orcs e uruks criados com maquiagem protética da Weta Workshop de Richard Taylor nos três O Senhor dos Anéis seja ainda mais convincente – e até mais carismática, tirando a feiura.



Felizmente, nem tudo é problemático em A Batalha dos Cinco Exércitos. As sequências de ação se mantêm num bom nível, seja no confronto de Bard (Luke Evans) com Smaug, ou na ótima sequência do Ataque a Dol Guldur, com Elrond (Hugo Weaving), Saruman (Christopher Lee) e Galadriel (Cate Blanchett) lutando contra os servos do Necromante (este, diferente dos Espectros, permaneceu com um visual óbvio e pouco criativo). O melhor momento vem no Morro do Corvo, quando há menos personagens a lidar e Jackson consegue estabelecer uma agonizante atmosfera de suspense para marcar o desfecho da batalha anterior, cuja linha de montagem pareceu bastante confusa – tirando todo o comando tático de Azog e um particular momento surpresa entre elfos e anões. E claro, tem mais piruetas do Legolas (Orlando Bloom) pra animar quem gosta – e deixar os puristas ainda mais irritados.

Com uma sensação pesarosa de que o resultado final poderia ser superior ao apresentado, a começar pelo recurso do 3D que, ressaltado mais na versão High Frame Rate, se mostra quase desastroso e praticamente sem profundidade de campo (sem contar os gritantes usos de chroma key), O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos, juntamente com suas duas prequências, encerra uma trilogia que preferiu ficar na sombra de sua sucessora. 

Pelo menos, há o suficiente para se emocionar. Afinal, nem todas as lágrimas são um mal, como diria o mago cinzento.





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