quarta-feira, 5 de novembro de 2025

QUANDO O CÉU SE ENGANA – asas do capitalismo tardio | CRÍTICA

 

Keanu Reeves, Seth Rogen e Aziz Ansari em QUANDO O CÉU SE ENGANA

É uma sensação estranha chegar a uma sala de cinema, assistir a um filme sabendo muito pouco sobre ele previamente e, pouco a pouco, perceber que aquela narrativa era algo que você precisava. Quando o Céu se Engana, de roteiro e direção de Aziz Ansari, bem se aproveita de pautas sintomáticas de uma geração ansiosa e frustrada para um dramédia muito do amistoso.


A premissa não é inovadora nem a execução é revolucionária, mas o longa distribuído pela Paris Filmes tem uma energia cativante pelo fácil diálogo com que se conecta ao público, ainda mais trazendo um obstáculo cotidiano comum da maioria dos adultos: a precarização de seus trabalhos e, consequentemente, a ruína de sua qualidade de vida e quaisquer ambições a ponto de nem a ajuda de anjos da guarda, como Gabriel (Keanu Reeves) e sua função limitada conseguem contornar. Quando Arj (Ansari) se sente injustiçado por Jeff (Seth Rogen), um magnata fintech que só é pão-duro no pagamento de serviços, tudo o que ele mais deseja seria ter uma vida melhor, ainda mais quando o seu anjo da guarda lhe mostra um futuro nada promissor.

(© Lionsgate Publicity/Divulgação)


Comédia edificada pela sucessão de trapalhadas/erros de seus personagens, é curioso ver como a troca de papéis traz ainda mais reflexões incluindo até a perspectiva de Elena (Keke Palmer), interesse romântico de Arj e uma voz pelos direitos trabalhistas logo quando colegas já se sentem vencidos pelo sistema. Por mais que o filme evidentemente não abrace recursos híbridos por uma pegada documental que comprove toda essa erosão do mercado de trabalho (estadunidense, em geral), o registro ali é honesto.


Divertido, leve e emocionante como filmes dessa pegada precisam ser em tempos de capitalismo tardio, só torço para que as cenas mais emocionantes não caiam nas mãos erradas para vender discursos motivacionais de gente que, tal como visto aqui em Quando O Céu Se Engana (Good Fortune, no original), precisa trocar de lugares em prol de um mínimo de empatia.


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