sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Carro Rei | CRÍTICA

Matheus Nachtergaele em CARRO REI
 

É um ato de celebração toda a vez em que realizadores brasileiros se empreendem na realização de um filme de fantasia. Custos à parte, firmar uma identidade nacional logo num gênero dominado pela cultura internacional é um exercício e tanto em sua demanda por criatividade. Mesmo oscilando entre altos e baixos, a diretora Renata Pinheiro faz Carro Rei nos entreter com um passeio distópico e consciente.


Numa Caruaru que passa por transformações urbanas, o jovem Uno (Luciano Pedro Jr.) tem a estranha habilidade de se comunicar com carros. Não da forma que seu tio, Zé Macaco (Matheus Nachtergaele), entende ser a partir de roncos de motor ou quaisquer ruídos, mas de forma verbal. De seu elo com um carro (de mesmo nome que o seu) da frota de táxis do pai, o garoto guarda mágoas familiares e pretende seguir outro caminho profissional, mas voltar a falar com o seu amigo secreto parece ser uma chance de consertar a sua vida familiar, além de ajudar a população da cidade a manter seus carros antigos uma vez que um político local (Tavinho Teixeira) vetou a circulação de veículos com mais de quinze anos.


(Fonte: IFFR/Reprodução)


Espécie de Transformers com consciência de classe com uma leve guinada para Christine, entre tantas outras fitas que envolvam carros comunicáveis, Carro Rei é megalomaníaco em forma que é difícil definir um clima geral. As atuações de todo o elenco não são das melhores, por vezes ditas sem inspiração (vide a personagem Amora), ou exageradas (a Mercedes de Jules Elting) a esmo a ponto de até uma cena em que envolve um claro exemplo de atuação biomecânica parece deslocada. Talvez esse seja o propósito da cineasta em seu enaltecimento da cultura brega local, mas a parte mambembe acaba enfraquecendo os tópicos de seriedade (a prosperidade iniciada em 2003, o político que incentiva coisas duvidosas para se promover "acima de todos") que se propõe – ou seria o contrário?

(Fonte: IFFR/Reprodução)


Com uma fotografia cativante que enaltece os tantos incidentes absurdos da obra, mesmo com suas irregularidades, a audácia de Carro Rei é algo inspirador além de seu prêmio máximo no Festival de Gramado. Tal como o personagem-título, todo tunado, é uma síntese do que esse nosso Cinema Brasileiro atual tem – e muito – a oferecer.




Filme assistido na mostra Exibições Especiais do 10º Olhar de Cinema.

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