quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Halloween Kills: O Terror Continua | CRÍTICA


É difícil definir o que faz de Halloween uma das franquias mais atrativas do cinema de horror, apesar de a maioria dos seus títulos estar longe de ser algo plausível ou memorável tanto quanto o original de John Carpenter. Nas mãos da Blumhouse, o comeback de 2018 serviu para reavivar o elo de Michael Myers e Laurie Strode omitindo de seu cânone praticamente todas as sequências dadas após o segundo longa e, daí, iniciando uma revisão da violência nos tempos atuais – afinal, seria apenas Michael o agressor na história? Então, se Halloween remetia até em estrutura com o clássico A Noite do Terror, com Halloween Kills, o diretor David Gordon Green aproxima-se da continuação de 1981 com muito mais matança e uma sociedade não menos incendiária.

Contando com a produção executiva de Jamie Lee Curtis (restringida agora a estar acamada no hospital tal como em boa parte de suas cenas em 81) e de John Carpenter (que não poderia estar de fora da trilha sonora), a impressão que se tem é de que o roteiro de Green em parceria com Danny McBride e Scott Teems vai contra o estilo do mestre do horror na cadência da narrativa. Ao invés de começar o filme diretamente onde o seu antecessor terminara, o trio de roteiristas investe numa longa sequência situada em 1978 a fim de conectar passado e presente numa perspectiva policial. Não só isso, o resgate de parte do elenco infantil do clássico, agora assistidos por um Anthony Michael Hall (O Clube dos Cinco) colérico, também toma boa parte da tela até voltarmos ao que realmente interessa, o choque da família Strode (com um destaque ainda maior para as personagens de Judy Greer e Andi Matichak) ao saber que aquele que tanto se sacrificaram para eliminar ainda está às soltas. 

Laurie e Karen passam boa parte da projeção em confinamento, mas são o ponto do dilema moral da continuação. (© Universal Pictures/Divulgação)


É interessante notar que Halloween Kills ocasionalmente cede o protagonismo ao coletivo e que "O mal acaba esta noite!" seja uma das frases mais ouvidas ao longo deste novo filme. Sua adesão vai aumentando a cada nova vítima brutalmente assassinada pelo sujeito mascarado que, tal como no segundo longa original, não segue um padrão. O que antes era uma tendência de eliminar jovens adultas, passando para a vendeta contra Laurie, "The Shape" agora quer eliminar todos que encontra pela frente, sem distinguir cor, idade ou orientação sexual. O trio fotografia, coreografia e montagem não nos poupam do massacre latente de Michael, sempre silencioso, ao contrário de toda a "gente de bem" de Haddonfield que não tem receios de pegar em armas para eliminar a ameaça. 


Anthony Michael Hall faz de seu personagem que sobrevivera quando criança a chefe da investida contra Michael Myers. (© Universal Pictures/Divulgação)


Porém, Myers, tal como muitas crianças fantasiadas na noite de Dia das Bruxas, está a fim de travessuras e parece testar os limites da agressividade daqueles que ousam desafiá-lo. A violência e o ódio lhe são os doces e "a criança de 6 anos no corpo de um adulto" nunca se dá por satisfeita; pelo contrário, se fortalece a ponto de se tornar uma besta indestrutível. A mitologia discutida por Laurie (Curtis) e Hawkins (Will Patton) tenta encontrar uma pista para destruir definitivamente o vilão, mas será que vai funcionar?

(© Universal Pictures/Divulgação)


Considerando que se trata do segundo capítulo de uma trilogia pretendida por Green, é evidente que Halloween Kills: O Terror Continua carece de uma autonomia não só por seu apego ao passado, mas por ter que pavimentar um caminho para o desfecho a ser visto em Halloween Ends. Ainda assim, há um recado bem dado sobre os efeitos do ódio e seus discursos que, inevitavelmente, podem ser atribuídos àqueles que ainda simpatizam com a intolerância generalizada e, sim, até com as necropolíticas que venceram eleições nos últimos anos. A essência do mal é tentadora, empodera os fracos (que se acham abraçados pela causa e que passam por cima da lei, apesar de exigi-la na correção alheia) e, no mais sorrateiro dos golpes, consome aqueles que erroneamente a tentaram. 





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