sábado, 9 de outubro de 2021

Rio Doce | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)


É curioso como nossas vidas, por vezes, parecem seguir ciclos de convergências. Pegamo-nos de surpresa com notícias que podem mudar significativamente os nossos próximos dias, o jeito de pensar e, disso, agir. Entre o Rio Doce, competente longa de estreia do diretor Fellipe Fernandes e nome do bairro mais populoso de Olinda, um jovem pai transita entre receios e frustrações da vida adulta.

Roteirizado por Fernandes e contando com uma atraente direção de fotografia de Pedro Sotero (Bacurau), Rio Doce nos apresenta Tiago (Okado do Canal) que, prestes a completar 28 anos, se vê cada vez mais encurralado. Sua remuneração não basta para o conserto da moto e demais despesas, daí a luz cortada em seu apartamento, o que faz com que se esquive de passar tempo com a filha justamente pela falta de condições decentes para a pequena. Nada lá muito distinto do retrato de um millennial de periferia, mas os conflitos dados na sequência fogem do clichê de piorar a situação para o protagonista ou, como no caso da revelação de seu pai até então desconhecido, sugerir uma mudança brusca na vida financeira. Pontos para Fellipe (em roteiro e direção) por seguir com coesão e naturalidade a jornada de Tiago, tanto é que me fez lembrar das durezas vividas pelo personagem de Donald Glover na ótima série Atlanta.

(© Vitrine Filmes/Divulgação)


Da ótima condução da operação de câmera, há também que destacar as composições das cenas entre famílias. Na sequência da visita às novas irmãs, é válido reparar que as conversas têm falas ríspidas do evidente choque de classes e tal frieza se vê refletida até na iluminação diurna. Diferente da cena de aniversário, onde sempre cabe mais gente mesmo num apartamento, a incandescência das velas tornam o ambiente e discursos afáveis, além da comida farta. Retratos de brasilidades.



Acertando em jamais tornar o protagonista irresponsável, porém alguém exausto de não conseguir progredir enquanto assiste aos outros crescerem (coisa que me faz sentir o mesmo), é evidente que Rio Doce se faz com coração grande, além de uma empatia e um final positivo que se fizeram extremamente benéficos nesta Mostra Competitiva do 10º Olhar de Cinema.


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