sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Rolê - Histórias dos Rolezinhos | CRÍTICA (10º Olhar de Cinema)



Agraciado com o Prêmio Especial do Júri e com Prêmio do Público no 10º Olhar de CinemaRolê - Histórias dos Rolezinhos quer falar muita coisa porque entende que os assuntos que vem a abordar, seja por imagens de arquivo, por depoimentos e performances, estão intrinsecamente ligados. Entre histórias reais que vão do preconceito a superação, há uma juventude que não se permite mais intimidar.

Com uma pesquisa extensa por parte do diretor Vladimir Seixas, Rolê começa resgatando um dos primeiros atos organizados pelo MTST no ano 2000 em que diversas pessoas de baixa renda compareceram em peso num shopping e se depararam com lojistas baixando grades para conter tais "ameaças". Corta-se para a década seguinte. Noticiários diversos reportam a "invasão" de jovens em shoppings das grandes capitais brasileiras e também confusões generalizadas que essas situações acarretaram. Como já era de se imaginar, são cenas de discriminação não só econômica, mas principalmente racial que vem a ser refletido pela ativista Priscila Rezende, pela agora empreendedora de joias Thayná Trindade e Jefferson Luís, então um organizador de rolezinhos e também um nerd nas horas vagas além da sua incessante busca por emprego.


Rolê - Histórias dos Rolezinhos/Divulgação)

Concentrando boa parte de sua montagem nos atos promovidos por Priscila, desde uma performance com outras mulheres a uma mui-explicita intervenção da mesma vestida de empregada, daí exibindo os caprichos de Thayná em sua confecção e venda de joias, Rolê pende a balança para a gravidade do fenômeno social. Logo quando poderia nos conceder mais momentos com Jefferson (que, de fato, possui os melhores relatos, incluindo a sua queixa de morar cada vez mais distante do centro) e todo o seu histórico de rolezinhos com a sua garotada, o documentário inclina-se para uma abordagem sufocante até culminar nas mortes de negros lamentavelmente vistas nos noticiários de 2020.

(© Rolê - Histórias dos Rolezinhos/Divulgação)


Não que Rolê deveria assumir uma postura isenta sobre essas coisas desprezíveis. Porém, uma vez que aquela icônica reportagem do UOL exibia adolescentes falando "Eu sou rolezeira!" com orgulho e sorrisos estampados no rosto, a abordagem do documentário prefere ofuscar esse lado humano das pessoas retratadas. Os relatos de superação promovem catarse, mas também seria válido ver essa galera toda dos rolês se divertindo, como sempre fora uma das intenções. Por mais que as idas aos shoppings eram apenas para ficar circulando em grupos pelos corredores sem almejar gastar com o estilo de vida sugerido nas vitrines, paquerar, ter seguranças no encalço e consumir fast food, das casquinhas aos lanches, essa garotada também era feliz ao seu modo.



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