quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O Chamado 3 | CRÍTICA


Dirigido pelas mãos calejadas pelo gênero horror de F. Javier Gutiérrez, a história de O Chamado 3 (ou Chamados [Rings], como deveria ser antes do claro veredito do marqueteiro) se passará treze anos após os acontecimentos dos primeiros capítulos da franquia pioneira, que se reinicia em ciclo quando um casal (Matilda Lutz e Alex Roe) se envolve com o vídeo mortífero de Samara graças à pesquisa neurocientífica do professor Gabriel (Johnny Galecki, de The Big Bang Theory).

Através do desgaste claustrofóbico de primeiríssimos planos, o diretor explora a ideia de confinamento – não puramente espacial, mas sobretudo situacional. No que soa mais como um ciclo vicioso funesto e expansivo, O Chamado 3 usa e abusa dos chamados de Samara, inicialmente quase tão corriqueiros quanto os clássicos e improdutivos jump scares.

Trazendo a entidade fantasmagórica para a modernidade, os arquivos .wmv substituem a fita VHS, celulares sucedem os telefones domésticos e a aparição da menina do poço dispensa os televisores de tubo – Samara agora se contenta até mesmo com as polegadas do iPhone. É, acima de tudo, a evidência da tentativa de conquistar um novo público, infante demais para assistir às obras anteriores nos cinemas. E é justamente essa busca quase desesperada por aceitação do público que culmina na escorregada de mão que faz o filme se desestabilizar como obra, suplantada pelo status de produto.


A fotografia esverdeada-fundo-de-poço retorna mais como memória afetiva do que qualquer outra coisa, contrastada ora com o escuro hollywoodiano de terror, ora com um amarelado pastel utópico e sem razão de ser senão a dilatação da pupila do espectador distraído com a previsibilidade do roteiro, composto por furos e saltos temporais duvidosos aliados a explicações desorientadas e ainda mais nebulosas, ocasionadas decerto devido ao tempo guardado na geladeira fílmica, dois anos em que montador e diretor persistiram em um filme meramente de bilheteria, e não de insurreição estético-dramática. Em uma época de renovação do gênero, O Chamado 3 é apenas mais do mesmo. Infelizmente.




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