Jean-Pierre e Luc Dardenne, irmãos, são os diretores por trás do franco-belga A Garota Desconhecida (La File Inconnue, no original). Habituados com o microcosmos de festivais e premiações, duas vezes vencedores da Palma de Ouro em Cannes, os dois não parecem nem um pouco preocupados em se reinventar, reproduzindo o já quase enfadonho jeito caseiro de se fazer cinema, despreocupado com qualquer amparo técnico, revelado em seus trabalhos anteriores, como Dois Dias, Uma Noite (2014), por exemplo.
Com personagens interligadas por excessiva conveniência dramática, a trama de A Garota Desconhecida, apesar de iminentemente excitante em torno do tênue – porém persistente – suspense gerado, desenvolve-se sem muito explorar as potencialidades da narrativa. Com exceção do plot inicial, em que a médica Jenny Davin (Adèle Haenel, mais fria que um boneco de neve) se sente culpada pela morte de uma moça ignorada que lhe tocara a campainha, iniciando, assim, uma busca implacável pela identidade da vítima, tudo é previsível ou tediosamente desencadeado.
Cruamente centrado em sua protagonista, a narrativa não cativa o espectador do gênero como deveria ao assumir um ritmo de morbidez patológica, em que até os pontos de virada são enfraquecidos pelo todo dramático. Utilizando a câmera em mãos aliada a uma iluminação e caracterização o mais naturais possíveis, o filme consegue uma proximidade familiar e verossímil, contrastando com as situações e interações às vezes absurdamente inconcebíveis na interação médico-paciente ou ainda investigador-interrogado, negativamente escuso.
Uma história potencialmente interessante, pouco imersiva no contexto audiovisual, aparentemente desvalorizada em realização, o que acaba resultando em nada mais que um thriller psicológico fajuto, feito imaturamente para se instaurar uma linguagem estético-fílmica dardenneriana ao se perseverar no fazer cinematográfico dos irmãos, que se enfraquece agora pela repetição. Vale como experiência para os diretores – só para eles, infelizmente.
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