sábado, 18 de fevereiro de 2017

Lion - Uma Jornada Para Casa | CRÍTICA


Indicado em seis categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme, Lion - Uma Jornada Para Casa surge como uma produção que procura atender a todos os quesitos da zona de conforto do cinema hollywoodiano, ainda mais quando é assinada pela (até-então) influente The Weinstein Company. Da fotografia composta em segurança, guiada por uma trilha sonora emocionante, rostos bastante conhecidos surgem em cena para sustentar o personagem principal em sua motivação que, inspirada em fatos reais, também segue o protocolo ao aflorar os sentimentos, ainda mais quando trata de um tema universal, todavia sem inovações.


Adaptado por Luke Davies (Life - Um Retrato de James Dean) a partir da autobiografia de Saroo Brierley, o filme começa em 1986, quando o garoto Saroo (Sunny Pawar, uma radiante revelação) acompanhava seu irmão mais velho em seus trabalhos clandestinos em troca de um pouco de leite para não passar a noite em fome com a Mãe e uma irmã mais nova. Perdendo-se do irmão numa estação de trem, o menino de cinco anos acaba chegando à populosa e distante região de Calcutá sem ter a quem recorrer, senão fugir de perigos impostos e passar o resto dos seus dias num abrigo entre outras e muitas crianças abandonadas. Ao ser adotado por um casal de australianos, vividos por Nicole Kidman e David Wenham, vinte anos depois, Saroo (agora na pele de Dev Patel) não poderia reclamar de nada com seu novo lar amável e convidativo na Tasmânia, prestes a viajar para Melbourne e cursar Administração em Hotéis, conhecendo aí aquela que viria a ser sua namorada (Rooney Mara), além de outros estudantes indianos.


Contato esse que é a uma ponte para que Saroo clame em reencontrar seu passado além de suas lembranças cada vez mais recorrentes e vívidas. Das pesquisas retomando seus passos e trilhos que glorifica os benefícios do Google Earth às consecutivas crises de identidade que tomam o personagem, a narrativa é econômica em diálogos expositivos e deixa a imagem falar por si só muitas vezes, o que é o suficiente para que nós compreendamos os pontos nas entrelinhas, especificamente, na primeira metade de filme (os trabalhos indignos, a exploração sexual, os maus tratos com as crianças abandonadas nas ruas e até nos orfanatos). Embora não seja plenamente habilidoso na direção de atores, o que faz com que Rooney Mara seja quase dispensável à trama, o trabalho visual de Garth Davis em parceria com o diretor de fotografia Greig Fraser (Rogue One, Foxcatcher) é bonito no que tange à humanidade de seus planos em meio a lugares tipicamente feios, potencializados a partir do momento em que a edição estabelece uma bela continuidade de analogias de movimentos e lugares por onde o passado e o presente de Saroo parecem se encontrar.

Apresentando uma performance comovente por parte de Nicole Kidman, é uma pena que o roteiro subjugado às comerciais duas horas de projeção abrace redundâncias ou recursos preguiçosos como cartelas finais (vide a explicação em texto de seu próprio título!) para contar da forma mais sentimental possível o que se vê em tela. O que não quer dizer que o contexto por trás de Lion seja irrelevante. Independente do sangue ou etnia, família é sempre aquela que estará disposta a nos dar o mais reconfortante dos abraços.



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