sábado, 24 de setembro de 2016

Sete Homens e Um Destino | CRÍTICA


Lá no ano de 1960, quando o western já era tido como decadente, a premissa de Sete Homens e Um Destino parecia inovadora quando a mesmice de personagens e narrativas maniqueístas comprovava o cansaço no gênero. Claramente inspirado em Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa, John Sturges trazia em seu filme sete distintos pistoleiros inicialmente contratados para defender uma vila de mexicanos contra um bando maior de saqueadores e, lá pelo fim, atestariam que a honra em ajudar e defender era maior do que a cobiça por ouro ou dólares. Ciente da importância da representação étnica no cinema atual, a nova versão de Sete Homens e Um Destino de Antoine Fuqua (Nocaute) é mais certeira na ação do que em seu discurso moral.

Quase uma década se passou desde o final da Guerra da Secessão, mas a cidade de Rose Creek ainda parece um cenário de guerra. No caso, uma companhia de extração de ouro chefiada por Bartholomew Bogue (Peter Saarsgard), que não tem pudores para oprimir o povo local com burocracia e violência. Na tentativa de garantir o que é seu por direito, assim como buscar justiça por aqueles que testemunharam as mortes de seus familiares, Emma Cullen (Haley Bennett) parte à procura de mercenários que estejam dispostos a defender o lugar pela quantia pouco generosa oferecida, mas o nome do vilão parece mais atrativo para o caçador de recompensas Sam Chisolm (Denzel Washington), que trata de recrutar outros homens que, se não são de sua plena confiança, ao menos são habilidosos com suas armas.


Se conhecendo o original e sua adaptação deduziríamos facilmente os fins que justificam os meios desta nova versão, o roteiro assinado por Nic Pizzolatto e Richard Wenk se assegura de proporcionar passagens inéditas em um contexto interessante, embora seja evidente a falta de tempo para explorá-las a fundo ou recorrer à metalinguagem, como o western ficou acostumado a ser tratado ultimamente. A partir do momento em que o primeiro roteirista é ninguém menos que o criador de True Detective, uma das séries atuais mais cultuadas da HBO, a expectativa é justa e é bem correspondida caso não seja das mais elevadas. 

Diante disso, é óbvio o foco nos personagens escritos para os astros que integram o novo The Magnificent Seven, que aqui não devem nada para Steve McQueen, Charles Bronson ou James Coburn – muito provavelmente, fazem até melhor do que o elenco do filme de 60. Chris Pratt (Jurassic World) mantém seu carisma roubando a cena como Josh Faraday e seus truques de cartas; Ethan Hawke surge maduro, mas não menos divertido, ainda que seja ofuscado por Byung-hun Lee (Exterminador do Futuro: Gênesis) com seu Billy Rocks, um mestre no uso de facas que rende boas cenas de lutas; Vincent D'Onofrio (Jurassic World, Demolidor), quase acostumado a papéis de vilania, surge reverente com uma entonação suave que contrasta com sua aparência feroz. Até os menos conhecidos do grupo, Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo) e o índio comanche Red Harvest (Martin Sensmeier), têm a chance de soltar uma frase de efeito ou, mais precisamente, introduções incomuns que, de fato, fazem a diferença para o remake e assim justificam a conveniente miscigenação do time e injetando algo além do "bangue bangue" tradicional.


Por outro lado, o filme vacila ao dimensionar Bogue em uma superficialidade que se resume a caretas entediadas e suadas ou ordenar mais ataques apenas para comprovar a violência e, se havia algum potencial no acerto de contas entre o vilão e Chisolm, fica por poucas e desinteressantes linhas de diálogo. Por mais divertido que seja o entrosamento entre os Sete Homens, há momentos onde carecem de motivações concretas, assim justificando seus atos de desistência que lá não têm muito impacto dramático considerando a previsibilidade do próximo ato. São lacunas emocionais que a última trilha sonora de James Horner, complementada por Simon Franglen, tratam de preencher incessantemente apresentando um leitmotiv revigorado do inesquecível tema composto por Elmer Bernstein.



Da fotografia excepcional de Mauro Fiore (Avatar), ressaltando o verde (cor rara nos velhos e áridos westerns) na locações por onde passam, além de filmar as sequências internas e externas de combates e tiroteios com uma qualidade dignamente épica, comprovando a habilidade do diretor ao criar e, assim, conduzir tais cenas, Sete Homens e Um Destino está longe de ser um western decepcionante, mas, para um gênero que fascina por seu alicerce mítico e suas entrelinhas, de personagens a cenários, que muito dizem pela sociedade de seu tempo, a verdade é o que o título está mais para um filme de ação encorpado e violento, traços pelos quais a filmografia de Antoine Fuqua é conhecida e justamente no que faz de melhor. 




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