Quem é Elton John por trás dos trajes bufantes e das inúmeras armações de óculos que o tornaram em um dos astros do rock inglês mais talentosos e icônicos de sua geração com seus tantos hits de arranjos enérgicos e apaixonantes? Se houve uma época em que documentários biográficos com seu formato tão convencional davam conta do recado até a década passada, no máximo, detalhando aí a trajetória e segredos da vida do músico com entrevistas e imagens de arquivo, não seria coincidência que a retomada de premiados filmes musicais somados a demais ficcionais sobre artistas levassem ao caminho auto-consciente, colorido e dramático visto com toda a pompa em Rocketman.
Uma vez que o filme chega aos cinemas com o peso do sucesso de público e alguns inesperados Oscars que Bohemian Rhapsody conquistou mesmo com seus problemas de produção (pra não falar aqueles de montagem), é preciso ser enfático: Rocketman consegue ser melhor do que "o filme do Queen". Com produção executiva de Matthew Vaughn (X-Men: Primeira Classe, Kingsman) e também do próprio Elton John, há também nesta obra dirigida por Dexter Fletcher (Voando Alto) um Taron Egerton como protagonista igualmente – e talvez até mais – dedicado, algumas muitas semelhanças de jornada musical, o sonho de conquistar a América e até obstáculos semelhantes na forma de um empresário arrogante e vícios. Mas, afinal, o que há de diferente e que, apesar de algumas ressalvas, faz o longa ser mais cativante?
Propósitos. Não que o lado sombrio de Elton John venha à tona apenas com o lançamento deste filme, mas é principalmente a forma honesta como os seus vícios em álcool, sexo, drogas e compras são retratados aqui – e não é por menos que a sequência inicial se passe em uma sessão de terapia coletiva, com Elton (interpretado por Egerton) despindo-se de sua fantasia demoníaca e falando pelos cotovelos – além de não ter pudor de mostrar o personagem em relações sexuais com outros homens. Muito mais do que uma reconstituição dos altos e baixos da vida do artista, existe aqui uma divertida intenção de tornar a narrativa em um verdadeiro musical com todo o requinte clássico e com uma ótima fonte a se inspirar e apresentar às gerações mais novas que, provavelmente, devem tê-lo conhecido apenas por suas turnês recentes ou por sua hilária participação em Kingsman: O Círculo Dourado.
Se os momentos devidamente musicais são sublimes em questão de coreografia e com Taron Egerton fazendo releituras impecáveis das canções, por outro lado, o roteiro assinado por Lee Hall (Victoria e Abdul, Billy Elliot) segue uma estrutura muito que previsivelmente freudiana para a biopic que foca na transição do tímido garoto Reggie Dwight no adorado Elton. Culpando o desafeto do pai, a arrogância da mãe (Bryce Dallas Howard) e a traição do amante/empresário John Reid (Richard Madden) para todo o seu sofrimento e compulsões que o fizeram ser o extravagante performer nos palcos, porém decadente em saúde, o texto é cercado de diálogos que se apoiam nas letras muito que compostas pelo melhor amigo, Bernie Taupin, que ganha uma camarada interpretação de Jamie Bell.
Definitivamente um diretor com mais experiências com atores do que na construção de uma mise-en-scène inteligente, Dexter Fletcher rege cenas que ora são bonitas e empolgantes de se ver (e ouvir, é claro!) ora derrapa em uma decupagem que quase lembra os planos pavorosos de algumas cenas de Bohemian Rhapsody. Se as primeiras canções – "The Bitch Is Back", "I Want Love", "Saturday Night's Alright (For Fighting)" – executadas já nos envolvem com a sua irreverência cênica e escapista, é na cena em que Elton compõe "Your Song" que vemos um trabalho fabuloso ao munir-se da profundidade de campo para demonstrar as reações das demais personagens na casa sem precisar recorrer a tantos closes e cortes. Existe também a intenção de mostrar todo o êxtase e a liberdade de se apreciar um bom rock n' roll principalmente quando Elton conquista seu estrelato nas casas de shows americanas e, posteriormente, americanas, muito embora a representação da faixa-título se exceda num efeito visual não menos que bizarro.
Diante de um repertório de incontestáveis "musicões" que compreendem a primeira parte da carreira do artista como o próprio aparentemente gostaria de ver representado, Rocketman é um filme que, mesmo com suas irregularidades narrativas, já se mostra à frente da ruptura de sensacionalismos e tabus que ainda vingam no subgênero, o que é incrível notar que foi preciso Elton John para dar esse admirável passo também em filme.
(© Paramount Pictures/Divulgação) |
Se os momentos devidamente musicais são sublimes em questão de coreografia e com Taron Egerton fazendo releituras impecáveis das canções, por outro lado, o roteiro assinado por Lee Hall (Victoria e Abdul, Billy Elliot) segue uma estrutura muito que previsivelmente freudiana para a biopic que foca na transição do tímido garoto Reggie Dwight no adorado Elton. Culpando o desafeto do pai, a arrogância da mãe (Bryce Dallas Howard) e a traição do amante/empresário John Reid (Richard Madden) para todo o seu sofrimento e compulsões que o fizeram ser o extravagante performer nos palcos, porém decadente em saúde, o texto é cercado de diálogos que se apoiam nas letras muito que compostas pelo melhor amigo, Bernie Taupin, que ganha uma camarada interpretação de Jamie Bell.
(© Paramount Pictures/Divulgação) |
Definitivamente um diretor com mais experiências com atores do que na construção de uma mise-en-scène inteligente, Dexter Fletcher rege cenas que ora são bonitas e empolgantes de se ver (e ouvir, é claro!) ora derrapa em uma decupagem que quase lembra os planos pavorosos de algumas cenas de Bohemian Rhapsody. Se as primeiras canções – "The Bitch Is Back", "I Want Love", "Saturday Night's Alright (For Fighting)" – executadas já nos envolvem com a sua irreverência cênica e escapista, é na cena em que Elton compõe "Your Song" que vemos um trabalho fabuloso ao munir-se da profundidade de campo para demonstrar as reações das demais personagens na casa sem precisar recorrer a tantos closes e cortes. Existe também a intenção de mostrar todo o êxtase e a liberdade de se apreciar um bom rock n' roll principalmente quando Elton conquista seu estrelato nas casas de shows americanas e, posteriormente, americanas, muito embora a representação da faixa-título se exceda num efeito visual não menos que bizarro.
(© Paramount Pictures/Divulgação) |
Diante de um repertório de incontestáveis "musicões" que compreendem a primeira parte da carreira do artista como o próprio aparentemente gostaria de ver representado, Rocketman é um filme que, mesmo com suas irregularidades narrativas, já se mostra à frente da ruptura de sensacionalismos e tabus que ainda vingam no subgênero, o que é incrível notar que foi preciso Elton John para dar esse admirável passo também em filme.
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