quinta-feira, 16 de maio de 2019

O Sol Também É Uma Estrela | CRÍTICA


Inspirado no romance homônimo da autora Nicola Yoon, que também escreveu o livro que originou Tudo e Todas As CoisasO Sol Também É Uma Estrela, definitivamente, acaba sendo um filme com mérito muito maior do que o esperado – e não é porque se trata de um título que bem cumpre a sua diversidade de personagens no desvio hollywoodiano do tal whitewashing. Ao transpor para a tela mais um conto de amor quase impossível que anda fazendo sucesso com o público jovem adulto no mercado literário, o que se vê é uma história envolvente, tecnicamente criativa e que bem dialoga com a geração millennial e toda a sua gama de anseios em meio à amplitude metropolitana.

Natasha Kingsley (Yara Shahidi) é uma garota que sonha alto, reserva esperanças para um futuro brilhante em seu interesse por astronomia, mas está a um dia prestes a ser deportada para a Jamaica por ser, junto com sua família, uma imigrante ilegal em Nova York. Daniel Bae (Charles Melton), descendente de coreanos, aspira por uma vida menos regrada pelos pais e tenta converter seus pensamentos em poesia, tal como busca inspiração no cotidiano frenético da cidade – o que faz com que repare numa desiludida Natasha olhando para o teto da estação de trem. Embora a narrativa se apegue fácil ao recurso da coincidência e que um ou outro incidente soe forçado demais para que cada encontro aconteça, o texto constantemente inspirado e repleto de referências apresentados por imagens de arquivos e sequências de fotos estáticas (tal como Agnès Varda tirava de letra em suas obras) vai conquistando o interesse e a torcida do espectador para que aquele caso de amor se concretize acima de suas barreiras.

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

A julgar por algumas semelhanças, O Sol Também É Uma Estrela parece até um La La Land da costa leste americana, ainda que mundano e bem menos musical. Ilustre por empregar mulheres nos cargos principais da produção, o filme se torna progressivamente estonteante pelo caprichado trabalho imagético da diretora Ry Russo-Young e da diretora de fotografia Autumn Durald Arkapaw que, das externas ensolaradas aos cômodos internos sombreados e de feixes de luzes indiretas, além de aplicações artísticas do desfoque, parecem compor retratos das personagens e das locações se esquivando do óbvio, mas com um aspecto próximo a uma foto carregada de filtros elegantes no Instagram. Tornando Nova York em uma cidade quase idílica para os jovens apaixonados (e que surgem inúmeras vezes com celulares), é compreensível que o trabalho fotográfico procure retratar o que há de melhor e ainda tornando cada espaço em cena em almejados espaços de convivência.

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

O Sol Também É Uma Estrela, enfim, é belo por seu desfecho honesto e (de novo) inventivo na medida em que não precisa se delongar para tecer uma crítica às políticas de imigração, somado ao carisma de seus protagonistas (Melton evolui como ator em comparação ao estereótipo que representa em Riverdale) e ao acerto em não tornar a relação em algo tão patológico que, só de pensar, seria intragável de acompanhar. Um filme que, todavia aponte que o millennial seja aborrecível pelo fato de não se deixar ser contrariado, em paralelo, incentiva-o a perseguir suas ambições que os mais velhos, já acomodados, diriam ser impensáveis pelo defasado apego às tradições e preceitos.



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