sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Máquinas Mortais | CRÍTICA


Que as produções assinadas por Peter Jackson são sempre caprichadas até os mínimos detalhes, principalmente se formos levar em consideração a complexidade cinematográfica envolvida nas trilogias O Senhor dos Anéis e O Hobbit, é difícil fazer vista grossa para as últimas obras do cineasta neozelandês logo quando estas sofrem de um inchaço narrativo a ponto de comprometer a experiência do público. Em mais uma tentativa pra lá de ambiciosa em projetar nas telonas outro universo fabuloso, a Universal Pictures e a Wingnut Films de Jackson apostam em Máquinas Mortais para contar uma história sobre as colossais sequelas da ganância das potências mundiais, mas que, infelizmente, perde muito no quesito emoção.

Inspirado na série de livros escritos por Philip Reeve, Jackson cede a cadeira de diretor para Christian Rivers que, apesar de ser um estreante no cargo, há mais de vinte e cinco anos atua como colaborador do cineasta tendo desenhado desde os storyboards de O Senhor dos Anéis, integrado a oscarizada equipe de efeitos visuais de King Kong e substituído Andy Serkis como diretor de segunda unidade nas refilmagens do segundo e terceiro longas de O Hobbit. Sendo assim, considerando o tempo desta parceria, percebe-se que Rivers adota um estilo de direção muito próximo ao de Jackson: os planos de ambientação são fartos e guiados em movimentos, o que se repete em enquadramentos mais fechados, o desenho de iluminação reflete tons suaves na cor e há também um bom domínio das muitas sequências que envolvem computação gráfica. Mas, afinal, qual é o problema com o longa?


Situada há mais de mil anos após a chamada "Guerra dos Sessenta Minutos" que abalou o mundo a ponto de fazer com que metrópoles passem a utilizar um mecanismo de movimentação para perseguir cidades menores e, assim, pilhar e destruir recursos de cidades sobreviventes menores, a história de Máquinas Mortais carece de um protagonismo que seja, no mínimo, interessante. Seja por descuido do trio de roteiristas ou pelo original escrito por Reeve, acontece que a motivação de vingança a qual a islandesa Hera Hilmar como a rebelde Hester Shaw a fim de assassinar o perigoso Thadeus Valentine (Hugo Weaving) é por vezes sublevado por uma subtrama romântica forçada entre a garota e o apagadíssimo Tom (Robert Sheehan) que, por sua vez, é quem mais explica sobre a mitologia da narrativa.

Pouco a pouco, portanto, percebe-se que Rivers não detém um domínio na direção de atores e por vezes fica refém de apenas conduzir a história pela forma mais ostensiva o possível – o que não quer dizer que seja funcional, perdendo aí alguns detalhes do minucioso design de produção de Dan Hennah que tanto tem a contar com suas referências steampunk.


Mistura de Mad Max (evidente no empolgante prólogo e na trilha de Tom Holkenborg) com as parafernálias distópicas infantojuvenis como Maze Runner e Jogos Vorazes, além de uma dose cibernética a la Matrix – o que não se resume à escalação de Weaving no elenco, mas também pelo visual andrógino da personagem de Jihae (talvez a melhor coisa na produção!) e o Ressuscitado autômato interpretado por Stephen Lang –, Máquinas Mortais (Mortal Engines, no original) tem uma apresentação em 3D muito boa e, quem sabe, venha até ser uma obra à frente do seu tempo, mas a sensação final é a de que a narrativa em si, com tantos elementos e arquétipos comuns, não se faz merecedora de todo o bom cuidado audiovisual que seus realizadores costumam empregar.



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