quinta-feira, 14 de maio de 2015

Mad Max: Estrada da Fúria | CRÍTICA


A primeira trilogia de Mad Max, que alçou Mel Gibson ao estrelato, era uma verdadeira mutação fílmica. Com seu filme original, de orçamento modesto, mas cheio de sutilezas, suas sequências abraçavam um mundo pós-apocalíptico cada vez mais arenoso, insano e violento, em meio a um relativo fio de esperança. O que mais chamava a atenção, no entanto, eram as ótimas sequências de perseguições de carros, que também aumentaram sua proporção de um título pro outro. Seja lá um reinício ou continuação, Mad Max: Estrada da Fúria é melhor desenvolvido, potencialmente frenético e detentor das mais alucinantes sequências de perseguições no deserto.

Na Estrada da Fúria, o diretor George Miller vai direto ao ponto e mal para pro repouso. Depois de anos tentando finalizar o roteiro, Miller se uniu com os roteiristas Brendan McCarthy e Nico Lathouris, e o resultado é uma trama ágil, econômica, que joga as informações essenciais logo nos primeiros minutos, circundando um breve passado de Max Rockatansky (Tom Hardy), para então mostrá-lo na condição de caça pelos Garotos de Guerra "meia-vida" do ardido ditador Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), aprisionando-o na Cidadela, um reduto rochoso onde milhares de maltrapilhos se amontoam para conseguir um pouco da "viciante" Aqua Cola de Joe, nada mais do que água encanada liberada escassamente pelos lacaios. É chegada a hora, então, da Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) pilotar a Máquina de Guerra para buscar os suprimentos mais urgentes ao povo: gasolina e munição.


Se o filme se aproxima dos antecessores, talvez seja pela violenta sequência em que Max têm que conduzir um caminhão de combustível ao passo em que combate as forças do bizarro Lorde Humungus em Mad Max 2: A Caçada Continua. A partir do momento em que Furiosa toma sua "incompreensível" decisão enganando Immortan Joe, a perseguição é intensa e não para nem mesmo sob tempestades de areia, tudo muito bem orquestrado por Miller, que desta vez não economiza planos e composições de cena para capturar o melhor de tantas batidas e tiroteios em alta velocidade, isso para não mencionar as diversas acrobacias e lutas travadas entre os inúmeros carros e caminhões transformados para enfrentar as quase imbatíveis intempéries. Onde está o Max? Servindo de "Bolsa de Sangue" para o kamicrazy Nux (Nicholas Hoult) durante a perseguição automobilística, com uma ótima trilha, embora excessiva, de Tom Holkenborg. Isso, claro, até a poeira baixar e Rockatansky passar a conduzir a acossada fuga, aliviando quem esperava que o personagem se tornasse um mero coadjuvante.

Uma grande surpresa para A Estrada da Fúria, além de todo o apogeu da equipe técnica, são suas personagens femininas fortes e determinadas. Como o próprio nome já diz, a Furiosa de Theron é indomável e seu braço mecânico mais lhe auxilia do que impossibilita de cumprir sua missão, mas também se permite chorar quando a dor vem à tona. As outras moças que a acompanham, como a Esplêndida Angharad (Rosie Huntington-Witheley) e Toast (Zoë Kravitz), também compartilham da mesma força e uma boa precisão no gatilho quando é preciso, fugindo do modelo de "donzela em perigo". Não menos interessante, Nux, que tanto espera uma oportunidade suicida e concretizar seus sonhos de adentrar os portões de Valhalla, recebe uma elétrica e divertida interpretação de Hoult.





O mérito das cenas de ação também vale para os esforços da direção de fotografia de John Seale. São uma quase infinidade de planos abertos e closes com duração mínima, variando ângulos e pontos de vista em qualquer lugar que seja possível acoplar uma câmera, evidenciando aí uma linguagem bastante contemporânea e que não deve nada a outros lançamentos recentes envolvendo carros. Se duvidar, até melhor. Some isso ao fato de a produção deter agora uma gama maior de recursos, permitindo que o design de produção de Colin Gibson, aliado com a Weta Workshop, expanda o mundo distópico de Max de uma maneira jamais vista, desde seus cenários repletos de itens mecânicos soldados para suprir as necessidades de um povo desesperado, que também recebe visuais distintos, tomados por deficiências e deformidades exponenciadas por suas mentalidades loucas, vide o próprio Immortan Joe e seus outros pavorosos comparsas, sem contar os distintos povos do deserto.






Voltamos, então, a Tom Hardy. O competente ator britânico encarna o clássico personagem com maestria, detendo um porte físico coerente para os consideráveis esforços em cena, derrubando os viúvos e viúvas que estavam lamentando a ausência de Mel Gibson antes mesmo de conferir o trabalho do substituto. Se por um lado o Max de Hardy carrega uma fala mais contida e grave, a sua contraparte mad tem a ferocidade que faltava ao primeiro ator, uma loucura que perambula em sua mente pela culpa em não ter salvo pessoas do seu passado, mas sem deixar de ser um cara com um certo carisma (e que dessa vez não bate em mulheres). E pensar que a ideia inicial era apenas sugerir uma Austrália à beira do apocalipse por causa de uma guerra de combustível, com um solitário policial tentando estabelecer a ordem.

Hoje, isso é apenas um instrumento para algo maior, procurando voltar às razões humanas, onde mulheres são capazes de nos guiar para um mundo melhor e, de tudo o que foi visto até então, podemos extrair que até mesmo filmes repletos de explosões e poucas falas existencialistas não são meras coisas para o divertimento. Da parte de George Miller, o veterano diretor é destemido ao realizar um filme que muitos diriam que "não há roteiro", mas ao enfatizar as ações dentro das imagens em movimento, Miller relembra algo que o cinema costumava ser: uma linguagem universal, por vezes corrompida por pretensões efêmeras de épocas de premiações.

Ainda bem que sempre vai existir alguém por aí para catalisar uma boa causa, um bom cinema. Se Max era mais um no meio da multidão, o importante é que ele fez a diferença.




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