sábado, 26 de janeiro de 2019

Creed II | CRÍTICA


O que faz a série Rocky ser tão fascinante mesmo passado mais de quarenta anos desde a estreia de seu oscarizado título original? Com roteiros relativamente simples e a presença sempre carismática de Sylvester Stallone, cada integrante de sua hexalogia trazia um contexto de superação diferente provando que os obstáculos nem sempre eram os adversários do outro lado do ringue. Há três anos, o excelente Creed: Nascido para Lutar chegava para revitalizar a franquia com um novo protagonista tendo o icônico personagem de Stallone como mentor sob a ótima direção de Ryan Coogler (Pantera Negra) que, por sua vez, elevou o emocional e toda a execução técnica a um novo patamar até mesmo de complexidade narrativa.

Seguindo a cronologia, ainda que evidentemente contido em sua virtuose cinematográfica, Creed II concentra-se no embate psicológico de seus personagens e na revisão das escolhas pregressas dos mesmos em mais outro indispensável capítulo da série.

Com o roteiro novamente nas mãos de Stallone e co-escrito por Juel Taylor, o filme apresenta Adonis Johnson (Michael B. Jordan) conquistando o cinturão dos pesos pesados e diante de muitos dilemas que lhes são impostos: o casamento com Bianca (Tessa Thompson) lhe acresce responsabilidades que alguns excessos da vida de pugilista cobraram caro de seu pai, Apollo Creed, e até mesmo de Rocky Balboa, ainda mais quando um amargurado Ivan Drago (Dolph Lundgren) sai da penumbra russa para lançar seu primogênito, Viktor (Florian 'Big Nasty' Munteanu), em uma luta contra o filho daquele quem tirou a vida. Cheio de teimosia (e muito que impulsionado pelo chamariz midiático), o jovem Creed quer vingança nesta chance de manter seu título, mas quem disse que um combate motivado pelo ódio garante a vitória? Que consequências essa luta trará a todos os envolvidos?

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Dirigido por Steven Caple Jr., um egresso da televisão e de curtas-metragens, Creed II esforça-se em ser uma narrativa bem mais dramática do que o seu antecessor, ainda que o filme seja permeado por três grandes lutas e uma montagem paralela de treinamento empolgante como a série sempre fez bonito. No entanto, a breve experiência do seu diretor faz com que os duelos sejam cinematograficamente pouco criativos a julgar pelo trabalho de operação de câmera e mixagem de som (excepcionais por si só no filme de 2015) para entregar uma decupagem mais próxima de transmissões de canais esportivos – o que parece ser proposital vide a presença da HBO Sports em cena. Entretanto, o impacto é positivo: o porte físico de Munteanu chega a ser assustador e o som de cada jab desferido trazem uma tonalidade distinta daqueles aplicados por Jordan.

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

De resto, contemplamos as grandes atuações da entrosada dupla Tessa Thompson e Michael B. Jordan enquanto vemos Stallone vivendo um Rocky cada vez mais solitário e receoso de retomar contato com seu filho interpretado por Milo Ventimiglia, provando que o então campeão também tem o que a aprender enquanto confere novos ensinamentos a Adonis. Só é uma pena que o núcleo da família Drago seja relegado a um obsoleto maniqueísmo que mal dá vozes aos devidos personagens – mais precisamente, Viktor e sua falta de opinião formada.

(© Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Que toda a tensão no ringue ainda é maravilhosamente aliviada ao soar das notas do trompete de "Gonna Fly Now" e que a inspirada trilha de Ludwig Göransson é outro capricho a parte, Creed II se prova ser outro edificante conto que sempre leva em conta o valor humano que ainda distingue a série de outras obras com o mesmo tema – e aqui, quem ganha é o espectador que tem acompanhado todos esses rounds apto para uma nova emoção.



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