quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Um Suburbano Sortudo | CRÍTICA


A elite branca que se cuide e que não se incomode, porque a "Classe C" tende a ficar mais presente. Se boa parte de figuras inspiradas no povão roubam a cena em programas humorísticos e novelas na TV, a Globo Filmes tem investido em Rodrigo Sant'Anna desde que sua personagem Valéria salvou o Zorra Total em 2011, o mesmo ocorrendo com seus outros papéis e bordões escrachados que caíram fácil na boca do povo. Vivendo Um Suburbano Sortudo, Sant'Anna se apodera da marra do jeito carioca em mais uma comédia de fórmula pronta.



Abraçando um dos arquétipos do cinema brasileiro, Denilson (Sant'Anna) é um macunaíma contemporâneo, daqueles que não têm vergonha de falar errado, que dá um jeito de ganhar dinheiro vendendo "muambas" na rua enquanto fica de olho nas curvaturas femininas que passam pelo local. Como todo brasileiro, o suburbano também deseja ficar rico e aqui não tarda para que esse sonho seja realizado – Denilson é o único filho legítimo (e bastardo) do recém falecido Damião (Stepan Nercessian), um empresário do ramo de eletro-móveis que venceu na vida e ficou multimilionário. Deixando toda a fortuna para o filho que nunca viu em 30 anos, Damião acumulou um par de ex-esposas e enteados desagradáveis, incluindo Sofia (ou Sofie), a mais-que-bondosa meia-irmã vivida por Carol Castro.


Escrito pelo próprio Rodrigo Sant'Anna, além das mãos de Paulo Cursino e L. G. Bayão, as desaventuras ostentadoras do agora emergente Denilson são dirigidas no "modo automático" por Roberto Santucci e Marcelo Antunez, ou seja, Um Suburbano Sortudo é mais um daqueles filmes brasileiros que respiram a velha linguagem televisiva, com seus excessos de planos e contra-planos nos diálogos, a trilha sonora didática e que situa cada passagem da narrativa que, se traz alguns pares de piadinhas boas, vide a sátira de uma jovem hipster com seu ukulele, logo são suprimidas por um conteúdo sexista que reduz as mulheres a objetos de prazer masculinos e apenas dinheiristas. Nem mesmo as cenas onde somos apresentados à família de Denilson escapam dessa impressão, onde os homens precisam se portar como machos tarados diante das mulheres.

Em tempos onde o cinema nacional nos presenteou a inspiradora personagem Val de Que Horas Ela Volta? (embora eu possua várias ressalvas quanto ao filme de Anna Muylaert), faltou a Um Suburbano Sortudo este mesmo toque sutil de buscar no povo brasileiro, desse que trabalha exaustivamente nas ruas e tenta sobreviver contornando as crises financeiras que a elite governante mal sente no bolso, justamente o seu melhor. Quando Denilson toma as rédeas da empresa herdada do pai, uma figura brega, mas carismática, que venceu na vida e realizou sonhos de milhares de pessoas, o filme deixa de aproveitar sua melhor passagem (resolvendo o problema da falência da empresa em instantes) e não homenageia apropriadamente os empreendedores oriundos do "povão" e que tanto se destacam no país. Está na hora de os realizadores por dentro da Globo Filmes perceberem que os brasileiros não querem mais ver essas chanchadas batidas tampouco o seu errôneo autorretrato.




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