quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Kursk - A Última Missão | CRÍTICA


Histórias inspiradas em tragédias recentes tendem a evocar as memórias do público além da proposição em comovê-lo fornecendo um outro ponto de vista daquele apresentado pelas notícias jornalísticas (vide Os 33) ou ainda esmiuçar um aprendizado com as personagens reais ligadas diretamente àqueles eventos e apontar as falhas que acabam se concentrando quase sempre na ganância do homem. Em Kursk - A Última Missão, o acidente do submarino russo ocorrido em agosto de 2000 leva em conta a humanidade acima de qualquer fator, mas afunda por seu retrato um tanto quanto defasado.

Produzido pelo francês Luc Besson (Anna: O Perigo Tem Nome, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, O Profissional) e dirigido pelo dinamarquês Thomas Vinterberg (A Caça) a partir do roteiro do americano Robert Rodat (O Resgate do Soldado Ryan) inspirado no livro "A Time To Die", de Robert Moore, a dramatização divide-se em contar o cotidiano familiar de alguns marinheiros, sendo Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts, Operação Red Sparrow) a principal força-motriz entre os colegas, e o lado burocrático da operação de resgate que envolve militares russos de altas patentes muito que de orgulho ferido por ver sua frota minguante, diferente dos tempos soviéticos, enquanto o comandante inglês David Russell (Colin Firth) não mede esforços para ajudar na situação, mas cauteloso o suficiente para evitar uma crise diplomática acerca das finalidades do submarino.

(© Paris Filmes/Divulgação)

Cineasta que despontou com o conterrâneo Lars Von Trier na proclamação do Dogma 95 e que sempre demonstrou um bom domínio com grandes elencos, vide Comunidade e seu iniciante Festa de Família, Vinterberg tem em mãos aqui um elenco europeu diversificado que não só apresenta talentos conhecidos como August Diehl (Aliados, Bastardos Inglórios) e Léa Seydoux (dedicada em um papel maduro), como resgata veteranos consagrados como Peter Simonischek (Toni Erdmann), Max von Sydow (Game Of ThronesStar Wars: O Despertar da Força, O Sétimo Selo) e Pernilla August (Star Wars: A Ameaça Fantasma, Fanny e Alexander). No entanto, nem mesmo o ótimo elenco estelar consegue conferir uma personalidade ao longa que, entre suas indecisões artísticas de direção ou roteiro, mais adere ao quadrado formato de "docudrama" do que uma narrativa existencialista ou até mesmo um thriller nos moldes hollywoodianos mais batidos.

Formalista demais, Thomas Vinterberg até tenta proporcionar algo distinto ao expandir e retrair o aspecto de tela, mas a mise-en-scène não chega ao ponto de justificar tamanha predileção da mesma forma que Christopher Nolan torna a ação mais impactante ao ampliar seus temas na variação de filmes de alto formato (vide Dunkirk) ou o que Clint Eastwood curiosamente conseguiu estender em seu estudo de caso de Sully: O Herói do Rio Hudson. Aqui, a tragédia não vangloria heróis ou pátrias. Afora alguns momentos que devem fazer a audiência prender a respiração junto com os personagens, quase tudo no filme se faz em um modus operandi cansativo, mas Kursk, pelo menos, tende a reiterar que decisões políticas custam caro do tempo daqueles que apenas queriam viver feliz em família.



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