Em 2010, quando um grupo de mineradores chilenos foi soterrado em uma velha mina, a quase 300m abaixo do nível da terra, o mundo voltou suas atenções para o acontecimento, por mais que a falta de informação e contato com aqueles homens levava a todos a preverem o pior. No entanto, de fronte para os portões fechados da mina estavam as famílias daqueles que estavam igualmente rezando para sobreviverem. Cinco anos depois e com seu final inevitavelmente previsível, conhecemos um pouco mais da história d'Os 33 (Los 33), ou melhor, uma parábola sobre o quão profunda pode ser a ganância do homem.
Dirigido pela mexicana Patricia Riggen e ao som das flautas andinas da trilha de James Horner, somos levados a uma vila onde moram praticamente todos os mineradores de San Jose, a mina particular em atividade desde o final do século XIX e que por vezes demonstrou sinais para desativar o local. Entre aqueles que viria a ser o líder (in-)voluntário dos soterrados, está Mario Sepúlveda (Antonio Banderas), um pai de família que ama sua esposa e filha, sempre com um sorriso no rosto entre seu cavanhaque, além de estar sempre em festa com seus companheiros, até porque um deles se dedica a fazer covers de Elvis Presley. No meio desse grupo também encontramos um veterano, prestes a assinar os papéis de sua aposentadoria, um homem que mantém uma esposa e a amante na casa ao lado, e também o jovem Álex (Mario Casas), que arrisca a vida trabalhando na mina para garantir o sustento de sua filha que está prestes a nascer, uma vez que o emprego em uma oficina lhe traria pouco retorno financeiro. Mas nem todos do grupo são felizes, como o dependente Darío Segovia (Juan Pablo Raba), que vai levar os problemas que tem com a irmã mais velha, María (Juliette Binoche, esforçada), para dentro da montanha. Quando o acidente ocorre, sacrifícios falam mais alto para tentar resistir à fome, ao calor e até mesmo a escuridão.
Justificando o emprego de seu elenco globalizado ao usar o inglês como idioma oficial de sua narrativa, Os 33, no entanto, é bastante honesto e comovente, evocando a resistência de seus personagens que sempre foram meros peões no jogo lucrativo da extração de ouro e cobre. Não faltam, então, os elementos que demonstram a ganância do homem, sobretudo quando envolve dinheiro. Desde o dono da mina que negligencia o pedido de Don Lucho (Lou Diamond Phillips) para fechar o local e evitar, assim, mais mortes (como a câmera enfatiza ao mostrar um carro esmagado por uma rocha e, ao lado, um santuário montado com velas e fotos das vítimas) e, quando o desastre acontece, fecha as portas evitando o contato com imprensa e público, o filme também mostra o quão burocrático o Estado pode ser, mesmo com tanta pressão popular, e cabe ao ministro Laurence Golborne (Rodrigo Santoro) tratar da diplomacia de modo solene com os familiares enraivecidos. De pouca prática na área e com um discurso pronto, Laurence então passa a se comover com a fé daquele povo diante dos portões e seria ele a passar por uma das maiores transformações ali, tentando fazer o impossível (e isso envolveria uma mão americana e outra brasileira) para, no mínimo, contatar os chilenos e assim tentar a extração de cada um deles a tempo de impedir um colapso maior dentro da montanha.
Diferente de Evereste, onde os personagens tinham ciência do perigo que lhes reservava, ainda que munidos de recursos para a sobrevivência, aqui o tema é tocado com decência. As cenas do racionamento progressivo de comida são muito tocantes e, guiadas pelo carisma de Banderas, é difícil não se comover com aquele grupo de chilenos, que inclui aí um boliviano que foi tentar a sorte, mas praticamente só encontrou o preconceito. Em suma, boa parte dos acontecimentos ainda nos são recentes à memória, o filme ainda consegue trazer passagens divertidas sem perder seu toque trágico, lembrando como o povo latino pode ser resistente.
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