segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Anna: O Perigo Tem Nome | CRÍTICA


O francês Luc Besson costuma ser um cineasta ousado, ainda mais quando decide aplicar toda a sua criatividade e ritmo ágil numa filmografia majoritariamente falada em inglês enquanto pinça e/ou revela artistas em destaque na cena contemporânea. Diretor que já pensava no protagonismo feminino aplicado em estilosas e violentas fitas de ação há trinta anos (mais como um fetiche particular do que uma frente pró-representação), pode-se dizer que o responsável por Nikita, O Quinto Elemento e Lucy volta aos seus primórdios com Anna: O Perigo Tem Nome, todavia surja influenciado pelo mesmo cinema de ação atual que, provavelmente, já fora muito influente.

Escrita por Besson e situada nos anos finais de Guerra Fria, a trama de Anna demonstra semelhanças de sobra com o até que recente Operação Red Sparrow, mas, por sua sorte, passa longe de ser vexaminoso como foi a experiência de ver Jennifer Lawrence como uma sexualizada agente da KGB. Entre um vai-e-vem intenso de lapsos de tempo e pontos de vista, conhecemos a garota-título (a competente – e russa! – Sasha Luss) passando de modelo-revelação na França ao seu recrutamento pelo agente Alex (Luke Evans) e testada pela fria Olga (Helen Mirren, se divertindo com o sotaque e uma peruca), até chamar a atenção dos americanos chefiados por Lenny Miller (Cillian Murphy). Incidentes contados não necessariamente nessa ordem, diga-se de passagem – o que deve cansar o público com tantos flashbacks.

(© Shanna Besson – EuropaCorp/Divulgação)

Esteta aficionado por gêneros americanos, Besson sabe que não vale a pena se prender a detalhes minuciosos de sua narrativa farsesca e entrega diálogos ocasionalmente bregas e cenas com um apelo sexual forte (o que chega a ser ousado tendo em vista alguns escândalos passados), fato é que o filme melhora consideravelmente quando parte para uma ação estilosa pela qual o cineasta sempre demonstrou boa destreza. Por outro lado, chega a ser gritante a vontade do diretor de Valerian em recuperar seu lugar no pódio do gênero quando marcantes exemplares da década, como a trilogia John Wick e até o similar Atômica, se projetem bem mais atrativos aos olhos e ouvidos do espectador com seus enredos simplificados e pancadaria criativa de sobra.

De qualquer forma, Anna: O Perigo Tem Nome merece seus méritos não só pela expressividade de sua bela protagonista ou pela descarada metáfora da matryoshka, como por sua montagem arrojada que faz uso curioso de jump-cuts e até mesmo pela decupagem e mise-en-scène de Besson que está distante de se acomodar. Excessos de sotaques falsos, estereótipos, vacilos cenográficos (celular Nokia dos anos 2000 aparecendo uma década antes?) e flashbacks que dão nós nas datas, o filme se torna um bom divertimento e razões por que "lutar como uma garota" se faz um tremendo elogio.



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