sábado, 16 de março de 2019

Capitã Marvel | CRÍTICA


Tendo em mente a vintena de filmes que a Marvel Studios lançou em onze anos de atividades em seu fenômeno cinematográfico, pode-se dizer que Capitã Marvel estreou nos cinemas com um atraso maior do que deveria a julgar pelo impasse de lançar um filme protagonizado por uma super-heroína afora a necessidade de se ater a cronologia principal de seus eventos, todavia sua entrega, enfim, seja muito satisfatória. No que serve, portanto, como mais uma prequência da Iniciativa Vingadores, o longa também se arrisca a contar uma história de origem que, embora detenha uma estrutura curiosa sem deixar de lado a diversão, não consegue se desprender de uma exposição maçante.

Escrito pela dupla de diretores Anna Boden & Ryan Fleck em parceria com a corroteirista Geneva Robertson-Dworet (Tomb Raider: A Origem), Capitã Marvel é, além de uma introdução daquela considerada uma das personagens mais poderosas da Marvel, um filme sobre o que nos torna ou nos leva a ser mais fortes. Seja pela quantidade de "nãos" recebidos durante a sua juventude, pelo afeto por suas amizades, pelas pessoas em quem se espelha e pelas causas que se engaja, Carol Danvers (Brie Larson) passa por uma jornada intergaláctica que começa desde sua posição na Starforce do Império Kree no combate aos Skrulls, até chegar à Terra para descobrir que sua missão principal é, em meio ao resgate de suas verdadeiras memórias pessoais, justamente o oposto pelo qual lutava. 

(© Marvel Studios/Reprodução)

A direção de fotografia não é deslumbrante (como de costume) e alguns cenários digitais deixam a desejar, mas o filme é um capricho principalmente na caracterização das personagens no conjunto figurino e maquiagem (os Skrulls são muito bem feitos!), sem contar a nostálgica ambientação no ano de 1995. Embora seus realizadores dispensem a oportunidade de se aprofundar no planeta Hala adotando uma estética a la O Quinto Elemento, as coisas na Terra têm um apelo bem mais cinéfilo do que uma soma de referências ao próprio universo (evidente mais no retorno de Clark Gregg, Lee Pace e Djimon Hounsou reprisando seus papéis). Seja pelo nome do gato, da seleção das músicas da época e até mesmo o resgate de filmes de sucesso na cena dentro de uma Blockbuster, é fato que um dos ápices de Capitã Marvel se encontra na sequência de perseguição do trem que, embora tenha seu impacto diminuído pela demasiada arranjada trilha sonora de Pinar Toprak, coloca Vers e um rejuvenescido Nick Fury (Samuel L. Jackson) em passagens de ação de tirar o fôlego e que cumprem o propósito de homenagear uma das mais cultuadas sequências de Operação França.


(© Marvel Studios/Reprodução)

Por outro lado, a ação nos dois atos subsequentes não é lá aquelas coisas espetaculares, ainda mais quando as cenas repletas de efeitos visuais tomam conta e tudo parece ser resolvido com uma facilidade de sobra, ao contrário do tour de force de Diana visto em Mulher-Maravilha pela decupagem precisa de Patty Jenkins. Egressos do cinema indie e da direção de seriados, Boden & Fleck concentram boa parte da resolução de conflitos da narrativa por meio de diálogos extensos, o que rendem performances ótimas sobretudo de Ben Mendehlson (em uma curiosa revisão de seu type casting) como Talos e Lashana Lynch no papel da melhor amiga de Danvers, Maria Rambeau, rendendo um passeio agradável em Louisiana. Dessa forma, a adrenalina em Capitã Marvel diminui sempre que longas explicações ressurgem a cada cena, embora falas sagazes são um deleite de acompanhar. Pontos positivos também para Annette Bening e Jude Law esbanjando carisma como já se espera destes competentes astros.

(© Marvel Studios/Reprodução)

Com isso, nesta fábula que dialoga até mesmo com questões sobre gaslighting (ou, em outras palavras, o ato de fazer uma pessoa desacreditar de suas capacidades), é preciso reforçar o quão radiante Brie Larson aparece a cada cena e que cada sorriso seu é deveras contagiante. Há também impactantes sequências de planos na montagem que enriquecem a narrativa driblando a simplicidade da cartilha do estúdio e é mais do que evidente que todo o elenco se diverte à beça nesta história. Por mais, enfim, que Capitã Marvel (Captain Marvel, no original) acabe sendo um filme menor em escala do que o esperado e por quitar por um instante a ansiedade deixada na cena pós-créditos de Guerra Infinita, temos aí outra marcante super-heroína que todos podem se espelhar.


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