quinta-feira, 15 de março de 2018

Tomb Raider: A Origem | CRÍTICA


Passados exatos cinco anos desde seu retorno triunfal aos games com o reboot lançado pela Square Enix, milhares de fãs conheceram no novo Tomb Raider uma nova versão da famosa arqueóloga Lara Croft ou, para muitos, uma das grandes musas dos jogos eletrônicos desde a década de noventa. Aparentemente inspirado no sucesso da série Uncharted em paralelo com o seguimento de Hollywood em fabular origens de heróis em reinícios de franquias de filmes, o estúdio Crystal Dynamics investiu em uma narrativa mais humana ao lado de uma jogabilidade fascinante que colocava a rejuvenescida Lara em uma série de perigos que, pouco a pouco, faziam-na perder sua inocência onde tentar sobreviver em uma ilha inóspita falava mais alto.

Tamanho êxito, a nova guinada do jogo parecia igualmente ideal para a reestreia da personagem no cinema, especialmente em tempos onde o público anda cada vez mais disposto a pagar para ver mulheres sendo protagonistas de suas histórias e, mais ainda, esbanjando força e determinação em cena. Portanto, muito do que se vê em Tomb Raider: A Origem aproxima o filme ao repetir momentos icônicos do game de 2013, além de atender a tal clamor dos e das fãs enquanto não retrata a heroína como uma sex symbol (tal como Angelina Jolie fora obrigada a representar com roupas avantajando sua silhueta e forçando os lábios a cada instante); a Lara da ótima Alicia Vikander é uma garota contemporânea, urbana e esportiva, mas que ainda ressente a falta de seu pai, Richard (Dominic West), não hesitando em abraçar uma oportunidade de reencontrá-lo mesmo quando há muito ele fora dado como morto.

Warner Bros. Pictures / Divulgação)

O roteiro da dupla novata Geneva Robertson-Dworet e Alastair Siddons bem que tenta tomar um caminho distinto da aventura nos consoles, mas, sem querer, acaba cometendo algumas gafes tão comuns em histórias semelhantes do gênero. Por mais que estipulem diversas cenas divertidas, tensas e comoventes que funcionam muito graças à desenvoltura de Vikander (oscarizada em A Garota Dinamarquesa) que abraça o papel com muita vontade e carisma, equívocos narrativos como o diário de viagem (encontrado em um esconderijo secreto de Richard Croft) e excessos de flashbacks didáticos/emotivos com fotografia insaturada, sem contar a claudicação entre assumir ou não os elementos sobrenaturais à história e o baixo conhecimento em artes marciais a ponto de colocar a personagem tentando aplicar mata-leões em inimigos repetidamente. Fora isso, a trilha sonora de Tom Holkenborg soa como ruidoso requentado de seus trabalhos em Mad Max e Batman vs Superman, a ponto de deixar o filme mais barulhento e cansativo do que deveria.

Todavia se espelhe na jogabilidade do seu material de origem, o que rende trocas de planos laterais para acompanhar a personagem dando saltos entre escadas horizontais do barco Endurance e na empolgante perseguição/fuga no cais de Hong Kong, sem se esquecer dos diversos perigos da ilha, a direção do norueguês Roar Uthaug é automática e entende que a ação se desenvolve por meio de cortes ágeis na montagem que seriam mais interessantes justamente na década passada, ainda mais que oportunidades para desenvolver planos-sequências tal como nos games desta geração se mostram bastante evidentes ao longo do filme (como no ataque aos mercenários), mas o diretor deixa passar batido tal como as ressalvas roteirísticas que poderiam ser amenizadas, culminando em motivações confusas por parte do vilão de Walton Goggins e apenas diferenciando o filme do game ao escolher um tom mais amarelado para a fotografia em contraste com a paleta de cores mais acinzentada de seu original.

Warner Bros. Pictures / Divulgação)

Admirável pelo seu elenco de apoio que nada quer mais do que se divertir ali (contando com participações de Kristin Scott Thomas, Derek JacobiNick Frost e Daniel Wu) e certeiro toda a vez que investe em um criativo estratagema de quebra-cabeças e fases de desafios crescentes, o que cativa o espectador e o aproxima da inesquecível experiência encontrada em Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida, o novo Tomb Raider acerta em seu teor e público-alvo (felizmente diferente de toda aquela sisudez horripilante vista em Assassin's Creed) e especialmente por causa do talento de sua atriz que protagoniza, tem tudo para desenvolver um futuro promissor em sua nova fase do cinema, entregando aqui uma aventura de entretenimento acessível que satisfará o espectador pouco exigente e os fãs de longa ou curta data de Lara Croft, já ansiosos para ver a heroína roubar a cena com suas pistolas duplas e desvendando os mais mirabolantes mistérios do mundo antigo.




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