quinta-feira, 6 de julho de 2017

Homem-Aranha: De Volta Ao Lar | CRÍTICA


Aprovada com unanimidade pelo público, a entrada triunfal do Homem-Aranha no Universo Cinematográfico Marvel foi certamente uma das melhores passagens de Capitão América: Guerra Civil, apresentando o novo Peter Parker interpretado por Tom Holland sem delongas e sem aquele complexo de culpa tão recorrente nos cinco filmes anteriores do herói. O Peter atual é um garoto de 15 anos bem disposto, um amigo leal e um nerd autêntico, mas a rinha no aeroporto de Berlim era só um aquecimento. Retornando para Nova York, o garoto anseia por mais do que deter pequenos delitos nas ruas: quer fazer grandes feitos para provar que ele também é um autêntico Vingador – e que continua a render muito que bem no cinema.

Sendo assim, pode-se dizer que Homem-Aranha: De Volta Ao Lar traz um verdadeiro batismo de fogo para o Amigão da Vizinhança que, de tão deslumbrado com seus grandes poderes, às vezes se esquece de que apenas é um adolescente com tantas coisas a cumprir e a experimentar com os dois pés no chão. A começar pelo dia-a-dia no colégio, onde deixou de fazer as atividades extraclasse em prol das responsabilidades de seu alter ego e chega até a matar aula, mas sem deixar de conviver com seu melhor amigo, Ned (Jacob Batalon), aturar o bully ricaço Flash Thompson (Tony Revolori) e demorar seu olhar em Liz (Laura Harrier), uma estudiosa e bela veterana que, pelo visto, também sente uma atração por Peter a ponto de irem para o baile da escola juntos, o que, desde já, rende um dos vários momentos ternos com a Tia May (Marisa Tomei). Só que Parker está com a cabeça bem longe, ainda mais quando descobre que há um bando de traficantes liderados por Adrian Toomes (Michael Keaton) negociando armas modificadas a partir da sucata alienígena deixada nas ruas durante a batalha vista no primeiro Vingadores e sabe que isso não só pode ser perigoso para a cidade como pode ser uma chance de chamar a atenção de Tony Stark (Robert Downey Jr.) a fim de mostrar que é capaz de dar conta das tantas ameaças maiores que ele. Porém, assim como aprendemos do pior jeito na adolescência, nem tudo sai como planejado e passa a requerer muito mais esforço para se contornar e aprender com os próprios erros. 



Dirigido por Jon Watts a partir de um roteiro enredado por doze mãos, é admirável como este Homem-Aranha consegue se cercar de atributos tão fascinantes que o tornam suficientemente distinto de seus antecessores, enfatizando essencialmente na fase juvenil e colegial que sempre foi comprimida nas duas primeiras versões, retratando a adolescência atual com sinceridade e eficácia na escalação de um elenco devidamente jovem e diversificado que não está ali apenas para cumprir cotas de representatividade em meio a cenas prazerosas de se ver. Logo, enquanto o público mais velho certamente relacionará a dinâmica apresentada com a filmografia de John Hughes (e há uma referência clara à Curtindo a Vida Adoidado), é inevitável a contribuição que os filmes da saga Harry Potter trouxeram ao gênero na última década e que se veem refletidas aqui também. Ora, se em O Cálice de Fogo Harry preferia enfrentar um dragão novamente a convidar uma garota para o Baile de Inverno (e, quando fez isso, foi da forma mais atrapalhada o possível), a situação não é muito diferente com Peter e todo o nervosismo a parte ao conhecer a família de Liz. E o que dizer da contrariada personagem de Zendaya se não uma nova versão da Hermione sempre lendo vários livros por onde anda com a turma? 

Saindo-se muito melhor na direção dos atores do que na criação de cenas de ação memoráveis, Watts aproveita o melhor do seu elenco e Tom Holland toma para si seu personagem de forma impecável e sem ofuscar seus colegas com seu devido timing cômico. Afugentando os receios gerados pelos trailers pra lá de expositivos, Robert Downey Jr. e Jon Favreau têm participações sucintas, embora surjam com a tarefa de controlar todo o ímpeto do garoto Aranha. E se Marisa Tomei merecia mais cenas para contracenar com Holland, Michael Keaton faz toda a diferença como Birdman o Abutre com sua motivação mais mercenária do que maligna propriamente dita, o que não quer dizer que não seja capaz de impor medo no herói e, o que é bem curioso, dispensa seu traje para fazer isso.



Embora haja pares de cenas que tragam o Homem-Aranha em sua melhor apresentação cinematográfica combatendo o crime com humor cativante e ágil, é estranho notar como os feitios do herói por vezes parecem bastante diminuídos na tela, ficando aquém até mesmo de momentos ilustres dos dois filmes estrelados por Andrew Garfield. No que se pode atribuir parte da culpa disso ao excesso de funcionalidades do traje desenvolvido por Stark, a falta de veemência no desenvolvimento das cenas no roteiro faz com que a decupagem do diretor se revele com pressa de construir a ação e, salvo a boa e tensa cena no Monumento de Washington, os demais conflitos carecem do impacto esperado e a sequência da balsa se partindo é mais emblemática pelo fato de figurar as ambições dos dois estúdios realizadores na projeção de seus devidos universos: a Marvel segue ortodoxamente sua fórmula de apresentar referências aqui e ali e dando indicativos para seus próximos filmes; a Sony, por sua vez, encontra uma nova chance de tocar pra frente seu "Aranhaverso" (contando já com Tom Hardy para encarnar Venom), mas acaba repetindo o mesmo equívoco cometido em O Espetacular Homem-Aranha 2, inflando a narrativa com personagens de sobra logo quando já havia o suficiente para se trabalhar. No meio disso tudo, resta ao Teioso dar o melhor de si sem decepcionar o público outra vez – e isso é algo que nem é passível de acontecer desta vez.

Propondo entretenimento de sobra para todas as faixas etárias vide o seu conteúdo agradável e a estética jovial transposta também na boa trilha de Michael Giacchino, no geral, Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming) é um filme espirituoso e de coração grande que, sem se deixar levar por excessos como o fez agora, pode facilmente ser formador de uma nova geração em suas continuações tal como as obras que o inspiraram. E pensar que os fãs só queriam ver o herói lutando ao lado dos Vingadores, o futuro do adorado personagem é não menos que promissor ao lembrar que está nas mãos talentosas de Tom Holland e nos bons tratos de sua Casa das Ideias. 




P.S.: Lembrando que há duas cenas pós-créditos.

Leia também as críticas dos filmes integrantes do Universo Cinematográfico Marvel:
- Guardiões da Galáxia Vol. 2

- Doutor Estranho
- Capitão América: Guerra Civil
- Homem-Formiga
- Vingadores: Era de Ultron

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