quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Cegonhas: A História Que Não Te Contaram | CRÍTICA


A fábula de que as cegonhas são as responsáveis por levar os bebês para sua novas famílias é contada desde a antiguidade e, assim sendo, tal lenda permanece no folclore mundial até hoje, afinal, sempre chega aquela fase na vida das crianças em que começam a perguntar sobre tudo, inclusive, de onde vieram. De uma "desculpa" agradável que contribui para atiçar a imaginação infantil, a uma primeira vista, a premissa de Cegonhas: A História Que Não Te Contaram pareceria tão defasada quanto um adulto acreditar em outras personalidades efêmeras caso seus realizadores não a moldassem precisamente para tempos de famílias inclusivas e menos ingênuas.

Dirigido por Doug Sweetland e Nicholas Stoller (dos dois Vizinhos), que também assina o roteiro, Cegonhas inicialmente acompanha Junior (dublado aqui por Klebber Toledo e por Andy Samberg no original), um dos melhores entregadores de bebês da empresa onde trabalha, localizada num altíssimo pico em algum lugar remoto. Há dezoito anos, porém, um incidente fez com que parassem de "produzir" os bebês e, desde então, as cegonhas entraram no lucrativo negócio de entregas da LojadaEsquina.com, fazendo a alegria de milhares de clientes eufóricos que aguardam por seus novos celulares de última geração. Considerando que criar uma criança tem elevado radicalmente o orçamento familiar, não seria surpresa que muitos prefiram investir em si mesmos ao invés de uma vida com filhos, e até Junior, que tenta se enturmar (sem muito êxito) com os demais colegas, pensa na carreira pessoal, principalmente ao ouvir o retumbante som da palavra "chefe".



Todavia, para conquistar o tão sonhado cargo e, desse modo, desfrutar de todas as frivolidades recreativas que isso pode oferecer, Junior é incumbido por seu superior de se livrar da atrapalhada órfã Tulipa (Tess Amorim/Katie Crown), responsável pelos prejuízos da empresa em todas as vezes que tentou ajudar nos afazeres. Em algum lugar distante dali, na casa da família Jardim, o menino Nando se frustra por ter que brincar sozinho e implorar para que seus pais, os ocupadíssimos corretores imobiliários Henrique (Ty Burrell) e Sarah (na voz original de Jennifer Aniston, que não quer ter filhos), deem um pouco de atenção para o filho único – até então. Ao pedir um irmãozinho, Nando sem querer vai colocar Junior e Tulipa numa aventura cheia de perigos e descobertas para entregar o pacote proibido, uma jornada que, não só passa a nortear melhor a narrativa, como se inteira de ser um dos grandes atrativos do filme.

Concebida em conjunto pela Animal Logic (Uma Aventura LEGO, Happy Feet) e pela Sony Pictures ImageWorks (Angry Birds, Hotel Transilvânia 2), Cegonhas demonstra texturas bem realísticas sem se esquecer de adicionar os traços cartunescos que contribuem para as características particulares de cada personagem em cena, o que fica ainda mais interessante em 3D. Das deliciosas cenas de ação que envolvem, quase sempre, resgatar a bebê, é a alcateia de lobos que surpreende ao ser um inventivo alívio cômico que não desiste tão facilmente de perseguir a dupla, enquanto o invejoso Pombo Luke (dublado por Marco Luque) é um pequeno encalço que, se tenta passar por cima do colega a fim de disputar o mesmo cargo, mais acaba atrapalhando o desenvolvimento da narrativa, algo que fica visível em outros pontos do filme também.



Embora os problemas de roteiro contribuam para distrações aqui e acolá, evidente na decisão de apresentar e assim ter que desenvolver a trajetória de mais de um(a) protagonista em tela, as boas piadinhas e toda a fofura que a animação da Warner Animation Group traz consigo é o suficiente para entreter as crianças e até mesmo fazer os adultos, sejam eles pais ou amantes da animação, encontrar seu lado lúdico que por vezes se esquecem de resgatar. Claro que o filme poderia trazer uma contextualização mais sarcástica do consumismo ou do meio empresarial, como bem fez Zootopia, mas seu produto em geral, da embalagem ao conteúdo, é satisfatório.

Ao bicar os conservadores provando que uma família se faz pela disposição de cuidar e amar uma criança, independente de gênero ou etnia, Cegonhas (Storks) alça um voo divertido e emocionante.




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