A hora de dormir pode ser o pior momento da vida de uma pessoa, ainda mais se ela passou por maus bocados nos últimos tempos, encontrando seus temores nos sonhos, ou melhor, pesadelos. Aproveitando o sucesso do talentoso Jacob Tremblay em O Quarto de Jack, O Sono da Morte tenta elaborar uma mescla de horror com fantasia e drama que teria funcionado melhor caso partisse em busca de uma estética própria.
Dirigido por Mike Flanagan, que assina o roteiro junto com Jeff Howard (ambos responsáveis pelo vindouro Ouija: Origem do Mal), o filme começa quando o casal formado por Jessie (Kate Bosworth) e Mark (Thomas Jane) decidem superar o falecimento do filho (cuja causa mortis vem a ser revelada em trechos na trama) adotando um garoto com um histórico familiar nada alegre. Cody (Tremblay) é meigo, gosta de borboletas e não demora para conviver bem com os novos pais, ainda que transpareça ter algo estranho consigo. Na calada da noite, Cody faz de tudo para permanecer acordado pelo motivo sobrenatural de seus sonhos se tornarem realidade – e não do jeito que estamos acostumados a utilizar a expressão esperançosa.
Repleto de boas ideias, acaba que O Sono da Morte vacila justamente na parte onde deveria ser mais incisivo, apresentando confusas transições entre realidade e fantasia que pouco justifica a materialização dos sonhos (belos e assustadores) do garoto e que se dissipam como mágica no ar, ainda mais quando o até que interessante Homem Cranco entra em cena para causar pânico e devorar mais vítimas. Até mesmo Stranger Things não tardou a apresentar uma justificativa aceitável de seus incidentes paranormais ao imaginário do público.
Não há, portanto, os mesmos estratagemas de compartilhamento de sonhos vistos em A Origem (afinal, só Cody adormece ou todos na casa compartilham de seus sonhos?) ou uma pertinente elaboração da mise-en-scène como Guillermo Del Toro (A Colina Escarlate) ou James Wan (Invocação do Mal 2) conseguem traçar tão bem; aqui, a cinematografia de insistentes planos e contraplanos se torna algo sonolento de acompanhar e os jump-scares são previsíveis pelos tipos de ações que os precedem.
Quando se propõe a ser um filme de terror em seu segundo ato, o filme até consegue prover uma identidade própria caso o espectador não tenha assistido às obras relevantes do gênero dos últimos dez anos, ficando aí sua semelhança com os capítulos de Sobrenatural. Por outro lado, o desenvolvimento compulsivo de Jessie ao abusar do poder de seu filho adotivo para rever seu primogênito renderia um grande de suspense, mas como uma noite mal dormida, os excessos de pensamentos fizeram de O Sono da Morte (Before I Wake) um sonho bastante tumultuado e pouco amedrontador.
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