sexta-feira, 25 de maio de 2018

Não Se Aceitam Devoluções | CRÍTICA


Um solteirão mulherengo que foge a qualquer custo do matrimônio e da paternidade acaba tendo que cuidar de uma bebê que afirmam ser sua filha, mas, com o passar dos anos, o cara vai deixando as escusas de lado e nutre um amor inestimável pela criança, fazendo o que for possível para dar do bom e do melhor para ela na ausência da mãe. Não seria mera coincidência se você já ouviu e assistiu a essa história antes, afinal, trata-se de uma parte resumida de Não Se Aceitam Devoluções, a versão brasileira e a terceira incursão da história contada no filme quase homônimo estrelado pelo mexicano Eugenio Derbez que, com seus tantos exageros e melodramas de sobra, nunca uma obra-prima imutável.

Contando com o popular apelo cômico de Leandro Hassum, o longa não muda muito a estrutura do que foi visto em Não Aceitamos Devoluções e no francês Uma Família de Dois, ainda mais quando as roteiristas encontrem brechas suficientes para encher a narrativa de brasilidade – e como tem! Se o Juca interpretado por Hassum reflete o típico brasileiro que se recusa a aprender inglês (a ponto de soltar o crasso "The book is on the table", que parecia ter morrido quando o Casseta & Planeta saiu da TV) e trata de se comunicar na marra com qualquer americano em Los Angeles, a ficção dá um jeitinho pro protagonista e insere personagens como a diretora da escola e um advogado que começam falando inglês, mas que não tardam em apresentar uma familiaridade maior com a língua portuguesa. 


Se o contigente-surpresa de brasileiros força a barra da verossimilhança – embora possa ser visto como algo favorável para a comédia, vide a boa tirada com a camareira esnobe –, a produção traz problemas graves de localização explícitos na maquiagem dos cenários cujos planos deixam escapar detalhes como na cena em que Juca e Emma (Manuela Kfouri, uma ótima revelação) se divertem em um parque de diversões que se entende ser em Los Angeles, mas um outdoor ainda em foco no segundo plano denota um anúncio de número de telefone com prefixo do estado de São Paulo. A etnia de Brenda, a mãe omissa vivida pela cubana Laura Ramos, também é algo que se estranha durante a projeção, mas a atriz é competente quando volta em cena e transmite a comoção de um reencontro, todavia pontuada a ser a antagonista da metade em diante tendo que lidar com uma motivação sufocada.

Dirigido por André Moraes e com o padrão esperado de uma produção Globo Filmes, o longa traz uma ponta divertida com o vocalista Derrick Green (Sepultura) e outra com uma sugestão de Ozzy Osbourne que, apesar de bem simular o jeito caquético do "Príncipe das Trevas" com as câmeras lembrando o estilo de filmagem do já antigo reality-show da MTV, a retratação estereotipada culmina em uma sequência aborrecível para o espectador que prefere um humor refinado.

Ressalvas também ficam por conta de algumas piadas de conotação sexual que por vezes destoam da sua intenção de ser um filme-família ou surgem na hora errada, mas num todo, Não Se Aceitam Devoluções certamente deve emocionar todos aqueles que possuem um amor inestimável pelos filhos ou que deveriam fazer disso um hábito diário, principalmente depois deste recado dado na nossa própria língua.




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