É quase que uma unanimidade: fazer um filme de comédia não é nada fácil, afirmam os mais conhecidos guias de roteiro. Todavia atribuam tal dificuldade principalmente a questões de diferenças culturais entre países (enquanto o drama seria universal para todos) e que por vezes a dublagem tem que "localizar" as piadas para serem justamente funcionais para quem assiste, a verdade é que o humor também se altera com o passar do tempo e que um mesmo chiste pode não ter a mesma graça do que em suas primeiras encenações. Assim, um programa que era pra ser divertido acaba sendo repetitivo e enfadonho diante de uma obra defasada.
Por sorte, A Noite do Jogo (Game Night) é exatamente aquele tipo de comédia que vai nos conquistando e também nos surpreendendo com sua linguagem reverente ao narrar uma sequência de incidentes absurdos que acontecem aos protagonistas (ou jogadores, melhor dizendo), atirando boas gags físicas e verbais se aproveitando do imenso repertório da cultura pop, tal como as boas produções do gênero têm feito nos últimos anos. Dessa forma, o roteiro de Mark Perez apresenta o casal formado por Annie (Rachel McAdams) e Max (Jason Bateman) respondendo uma pergunta sobre Teletubbies ao som de 'Don't Stop Me Now', do Queen (que também se faz presente em outro momento da trama), entretendo o público também com crises conjugais alheias, suposições de mecanismos de compensação masculinos enquanto torna a fatídica noite de diversão dos casais em um evento que vai além de seus jogos de tabuleiro, mímica e adivinhação: a partir do momento em que Brooks (Kyle Chandler), o galante irmão mais velho de Max, é sequestrado no que pensavam ser uma dinâmica arranjada pelo próprio, acaba se tornando uma missão de fuga e busca de consequências e reviravoltas pra lá de inesperadas.
(© Warner Bros. Pictures / Divulgação) |
O elenco não compromete a diversão, de forma alguma. Embora Rachel McAdams e Kyle Chandler sejam quase novatos na comédia e que aproveitem a oportunidade para se descontraírem além do hábito ao passo em que Jason Bateman já está acostumado no ramo, destacam-se o tagarela Lamorne Morris e Kylie Bunbury num acesso de ciúmes envolvendo um adultério com um tal "Denzel Washington", enquanto Billy Magnussen acerta em sua representação de um "loiro burro" deixando a parceira vivida por Sharon Horgan ser dona de toda a sagacidade. No entanto, quem rouba a cena mesmo no filme é Jesse Plemons que faz de seu esquisitão policial em uma figura engraçadíssima por sua sugestão de psicose que, ao contrário do que se pensa, não deve ser subestimado – pistas durante a projeção e nos créditos finais que o digam.
(© Warner Bros. Pictures / Divulgação) |
Afiado no retrato competitivo das pessoas e suas motivações quase sempre consumistas, certeiro em seu deboche enquanto resgata o prazer dos board games e das dinâmicas nada virtuais, fica óbvio que A Noite do Jogo não quer competir pelo título de melhor comédia da década, mas sua sagacidade e todos os demais atributos já mencionados colocam o filme casas a frente de tantas outras produções que clamam em ser cômicas e insistem em ficar no mesmo tempo e espaço.
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