quinta-feira, 14 de junho de 2018

Os surpreendentes curtas da Mirada Paranaense (7º Olhar de Cinema)


Conseguir um ingresso para as sessões da Mirada Paranaense – seja de curtas ou longa-metragens –, é sempre uma vitória a parte nas edições do Olhar de Cinema, afinal, nada mais justo do que o público ir prestigiar as obras de cineastas que há tempos vêm se destacando no cenário local que, embora combalida por poucas políticas de incentivo, projeta honrosos esforços criativos que contornam as dificuldades e também fazem ousadas narrativas com o experimental.

Dessa forma, foi muito gratificante assistir à primeira sessão da segunda parte de curtas da mostra conterrânea, ainda mais que convivi com esta turma de cineastas durante meus anos como aluno do Bacharelado em Cinema e Vídeo da Universidade Estadual do Paraná.

Na sequência, compartilho minhas impressões sobre os filmes apresentados:

Mergulho do Olho




Antes do início da sessão, o diretor Haroldo Castro Alves contou que recebeu o filme de presente. Rodado com uma câmera portátil no mar de Copacabana, é interessante o trabalho do realizador ao estabelecer uma montagem narrativa em que se evita o máximo de interferências. Assim, ruídos captados pelo aparato contribuem para uma sensação de desconforto em sentir o baque das ondas empurrando a câmera para longe enquanto peixes nadam a esmo. Nesse caos subaquático de diretor de fotografia creditado como desconhecido, cresce uma certa torcida para um desfecho menos agitado.


[Des]Prendidas



Dirigido por Ana Esperança como parte da série [Des]Iguais, com direção geral de Fábio Allon, [Des]Prendidas é um documentário-manifesto que não mede tempo para dar voz a mulheres que, pelo menos alguma vez na vida, foram repreendidas pelo seu cabelo crespo diante de pressões sociais e até mesmo profissionais.

Com relatos fortes e comoventes – em particular, quando uma das entrevistadas se emociona ao lembrar que amarrava sacolas para "sentir" seu cabelo balançando com o vento –, a diretora faz questão de celebrar a negritude ao filmar as festas realizadas na Sociedade 13 de Maio, em Curitiba, onde a discriminação racial fica de fora (e que tampouco é coisa inventada pelo negro). Diante da beleza desse contato intimista, a sensação é de querer ficar assistindo mais um bom tempo ao ver aquelas moças relatarem o quão felizes estão com seus cabelos livres, leves e soltos.

Conhecendo Esperança desde os tempos da faculdade, não tenho dúvidas de que ela apresentará incríveis produções no futuro próximo.


Vazante



Uma das propriedades que mais admiro na filmografia do Fábio Allon é a sua versatilidade no tato em fazer de narrativas meramente cotidianas em algo especial, senão mágico, além de se decidar em produções lúdicas com resultados igualmente divertidos, como o premiado curta A Equação do Amor.

Vazante marca a volta de Allon na direção de um elenco infantil, mas tendo em mãos uma trama (co-escrita por Nicole Sourient) bem mais sombria do que de costume e que anda em falta no gênero nos últimos anos. Assim, ao apresentar uma turma de amigos e amigas em plena pré-adolescência soltando muito papo furado enquanto rumam para uma misteriosa caverna em um clima tempestuoso e brincadeiras que, se pareciam inofensivas, não tardam a ser perversas.

Gosto de como o diretor faz dessa história de 20 minutos em um conto imprevisível, que cresce em seus mistérios e ainda se conecta com o público mais jovem com divertidas referências a Dora, a Aventureira e Yo-Kai Watch, além de fazer daquela garotada um eco distante de nossa juventude. É de ficar querendo mais!


Primavera de Fernanda



O último filme da sessão foi igualmente bem recebido e ovacionado, ainda mais com as presenças de um dos realizadores e sua protagonista, Laysa Machado. Dirigido por Débora Zanatta e Estevan De La FuentePrimavera de Fernanda conta a história da personagem-título que, cansada de sua atividade noturna e clientes desonestos (ou melhor, agressivos), decide dar um novo rumo para sua vida e, dessa forma, ajudar sua irmã no sustento da casa.

Afora um ou outro diálogo decorado, não há como não torcer por Fernanda tamanha história cativante, ainda mais quando se trata do rompimento do preconceito e de barreiras profissionais. Primavera de Fernanda conta com a ilustre participação de Regina Vogue interpretando uma personagem que ainda nos faz ter esperança na humanidade. O desfecho, catártico!



Por ter marcado presença também no Festival Mova, não consegui ver a outra parte da mostra de curtas da Mirada Paranaense com os filmes Terreiros, Superfície, Lui e Acima da Lei, que ganhou o AVEC-PR Award.

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