quarta-feira, 18 de abril de 2018

Submersão | CRÍTICA


Tal como o seu conterrâneo Werner Herzog, o alemão Wim Wenders fez do cinema uma janela para o mundo, mas jamais se conteve com a limitação de seu parapeito. Com uma carreira que soma mais de 50 anos de realizações de narrativas ficcionais (Paris, Texas; Asas do Desejo) e documentais (Pina; O Sal da Terra), Wenders atreveu-se a todos os tipos de indagações de temas resultantes em imagens pra lá de impressionantes na tela, levando o diretor não só a explorar tecnologias (chegando a rodar três filmes em 3D) como a conhecer todos os cantos possíveis da Terra. Inspirando-se no romance escrito por J.M. Legard, Wenders faz de Submersão (Submergence) um filme de polissemia para os limites da vida.

Adaptada por Erin Dignam (The Last Face, dirigido por Sean Penn), a trama dedica-se a contar uma história de amor entre a biomatemática Danielle Flinders (Alicia Vikander) e um suposto engenheiro hidráulico de nome James More (James McAvoy), apresentando como se conheceram e se apaixonaram num aconchegante hotel na Normandia e daí sua hesitante separação a fim de cumprirem suas devidas missões que muito buscam compreender o cenário atual no planeta. Danny está prestes a viajar para o Oceano Ártico a fim de mensurar a vida além das profundas e escuras zonas abissais; James é, na verdade, um agente infiltrado do MI6 que parte para a Somália investigar os planos de potenciais jihadistas, mas cai nas mãos destes que desacreditam no álibi do britânico e o trancafiam nos mais lúgubres dos calabouços. Ambos envoltos de uma escuridão crescente, a cientista adere à melancolia de não ser mais respondida pelo amante, ao passo em que este enxerga no cativeiro uma esperança distante de reencontrar aquela que amou numa realidade que lhe parece remota diante do que ouve e testemunha nas ruas controladas pela jihad.

California Filmes / Divulgação)

Com narrativa ocasionalmente não-linear, há muito em Submersão que remete à ideia de solitude tão presente na filmografia do cineasta, além de recorrer a uma contraparte documental no que tange às suas asserções científicas e políticas. É quando entra o médico interpretado por Alexander Siddig (Game Of Thrones) que o cativo, mesmo frisando as ações humanitárias providas por organizações mundiais, aprende a realidade de um panorama local inconcebível e que, mesmo na raíz de todo o mal, é possível encontrar gente com resquícios de boa índole; já na contraparte da biomatemática, a personagem reitera a importância de preservar a vida hadopelágica que, por mais insignificante que seja para aqueles sobre a superfície, pode ser de igual importância para os demais ecossistemas e sua sobrevivência.

California Filmes / Divulgação)

Quanto a solidão, Wenders também recorre à arte em prol de uma criativa ilustração com referências riquíssimas. Dispondo o personagem de McAvoy conversando discretamente com agentes em uma sala de pinturas em um museu, é interessante notar que as pinturas nada mais são do que do artista Caspar David Friedrich, um dos principais nomes do Romantismo Alemão e no retrato a óleo de paisagens e silhuetas eremitas. Não por menos, há em cena um homem que se posiciona e se veste tal como aquele da tela "Caminhante Sobre o Mar de Névoa".

California Filmes / Divulgação)

Assim, embora o roteiro por vezes divague e deixe a desejar em seu veio passional que faz todo o seu subtexto inteligente parecer ora complexo ora farsesco dados os seus elementos narrativos (o que pode ser atribuído ao material de origem), o elenco principal é esforçado e carismático enquanto Wenders, que já foi mais criativo em outros filmes, Submersão presta uma honra ao tour de force da humanidade e da vida no planeta como um todo, tal como faz um manifesto a favor de um cinema belo e ainda pensante.




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