quarta-feira, 11 de abril de 2018

Severina | CRÍTICA


Já faz alguns anos desde que o escritor e dramaturgo Felipe Hirsch se lançou no cinema dirigindo o longa Insolação ao lado da diretora Daniela Thomas e com nomes consagrados da atuação como Paulo José e Simone Spoladore resultando em uma obra deveras poética – um fato que, por vezes, só o palco parece capaz de expressar. Aliado com o produtor Rodrigo Teixeira (Me Chame Pelo Seu Nome), com Severina, Hirsch adapta o romance homônimo do guatemalteco Rodrigo Rey Rosa no ímpeto de transpor para a tela todo o charme do mundo livreiro que, independente de nações, está longe de perder o que lhe é efusivo.

Situado em uma pacata cidade do Uruguai, a narrativa mantém-se ao redor de R (Javier Drolas, do sucesso argentino Medianeras), um solitário proprietário de uma livraria de esquina que há tempos anseia em ser um escritor para, quem sabe, ver suas histórias viajarem tal como os ecléticos exemplares de edições pacatas a valiosas que figuram nas prateleiras de sua loja. Entre os manifestos culturais que promove na livraria, R acaba notando a presença recorrente de uma moça (Carla Quevedo) tão ávida por leitura como se mostra compulsiva (e habilidosa) no furto de livros. Se parecia um caso de polícia, para o aspirante a romancista, porém, era uma questão de se lançar na descoberta daquela jovem que, de tímida e oblíqua, também muito tem de sensual, seduzindo o livreiro e forjando uma relação de delírios e mistérios constantes que só mesmo uma divisão em prólogo e capítulos seria capaz de nos fazer compreender.

(Factoria Comunicação / Divulgação)
Com um enredo sinuoso fortalecido pelo clima predominantemente nublado que torna os cenários internos ainda mais aconchegantes, é mais do que válido destacar a direção de fotografia de Rui Poças que, a partir da evidente preferência de Hirsch por planos longos em sua decupagem, favorece o envolvimento do espectador no acompanhamento do suspense que circunda o livreiro e sua musa, em misto de incerteza se culminará em uma história de amor ou, com a devida influência de dois personagens secundários, conduzirá o casal por caminhos inesperados.

Discreto em sua reverência ao realismo mágico sem se esquecer de prestar uma homenagem em cena a um dos maiores nomes do estilo literário, Severina é também excepcional em seu uso da trilha sonora de Arthur de Faria, transcendendo a diegese e guiando seus próprios seguimentos com elegância. Embora, no final das contas, predisponha-se mais ao tédio acarretado pelo marasmo de suas personagens do que a um exercício de empatia pelas mesmas, o filme é certeiro ao provar a riqueza que nos é provida pela literatura; um ciclo de novas descobertas que também compreendem as mensagens escritas a lápis na contracapa.




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