Em uma era de cinemão carente de novos fenômenos de fandoms engajados, a Universal Pictures encontrou em Wicked um público realmente fiel egresso das várias montagens do musical teatral somando com todo o prestígio do seu elenco capitaneado por Cynthia Erivo e Ariana Grande. Fenômeno de nicho à parte, o êxito do primeiro filme trouxe uma nova leva de fãs que, paralelamente, fizeram a montagem do musical no Teatro Renault, em São Paulo, ter a sua temporada 2025 prorrogada ao longo de todo o ano, agregando gerações aos já aficionados pela peça enquanto buscavam nessa o desfecho que, hoje, encontram em Wicked: Parte 2 e o desafio de se manter à altura do primeiro longa.
A tarefa era arriscada, até porque adaptar a segunda parte da peça implicaria em criar mais incidentes para as jornadas de Elphaba (Erivo) e Glinda (Grande) ao passo em que insere a narrativa já vista em O Mágico de Oz entre músicas novas e reprises de temas anteriores com letras nem tão impactantes assim. A pegada a la As Crônicas de Nárnia, com um êxodo dos animais falantes fugindo da opressão de Oz, marca uma sequência de abertura empolgante por manter Elphaba em luta contra toda essa tirania – aqui, o roteiro de Winnie Holzman e Dana Fox também é certeiro ao mencionar pautas contemporâneas (o bloqueio na migração, as fake news) em meio ao drama das protagonistas, que ganha flashbacks enfadonhos e bregas da perspectiva de Glinda.
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| (© Universal Studios/Divulgação) |
Se os incidentes envolvendo Nessarose (Marissa Bode), Boq (Ethan Slater) e Fiyero (Jonathan Bailey) ganham soluções e contornos mais coerentes à trama cinematográfica (o que não quer dizer que sejam dos mais eficazes), a aparição do Leão Covarde (com a voz de Colman Domingo) é até decepcionante por trazer tão pouco do personagem, ainda mais com sua motivação pífia. A direção de Jon M. Chu traz um bom ritmo à narrativa mesmo nos momentos mais fracos, ainda que sua decupagem, embora valorize os cenários encantadores ocasionalmente, em profundidade de campo volta a se limitar entre tantos picotes que tendem a valorizar todo o figurino do já oscarizado Paul Tazewell.
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| (© Universal Studios/Divulgação) |
Considerando o fato que fui prestigiar a montagem teatral dois dias antes de assistir ao Wicked: Parte 2 (Wicked For Good, no original), a sensação é de estar muito satisfeito com o resultado, apesar de alguns excessos que sequer fariam falta. O filme segue aventuresco, divertido e emocionante como se pede, permitindo-se até mesmo ser um pouco picante quando se trata de Elphaba e Fiyero, valorizando Jonathan Bailey. Ariana Grande (apesar de não merecer elogios ao destratar os fãs brasileiros) demonstra aqui um crescimento dramático admirável e, junto com Cynthia Erivo, traz uma performance tão sublime de "For Good"(certamente, a melhor música da segunda parte) que é impossível conter as lágrimas.
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| (© Universal Studios/Divulgação) |
Se, enfim, a velha fábula difundida por O Mágico de Oz por décadas, com aquele sonho americano de uma terra de conquistas prometidas transformada, hoje, em uma cidade cuja gente permissiva se deixou levar por uma falsa utopia condescendente a intolerâncias sintomáticas, mais vale – como o fandom de Wicked demonstrou ao longo dos anos abraçando um texto mediano e aprimorou sua mensagem – estar com as pessoas que sempre nos fizeram bem.
Assista ao trailer:




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